Baci_Laos

O pedido de casamento foi espontâneo, feito quase por impulso. Eles não estavam em um restaurante cinco estrelas, a música deles não tocava no rádio e nem o mocinho dessa história estava de joelhos. O casal não estava nem no mesmo ambiente. A pergunta fora lançada por Fernanda por e-mail.

Ela pesquisava sobre o sudeste asiático, para aquela que define como “a viagem dos sonhos”. Foram 25 dias entre Singapura, Vietnã, Camboja, Tailândia e Laos. E foi nesse pequeno país, na chamada terra dos elefantes, que a cerimônia aconteceu. 

Cravado no coração da Indochina, o Laos foi colonizado por franceses e é considerado o país menos desenvolvido entre as nações banhadas pelo Mekong. É um destino exótico, famoso pelos bucólicos arrozais, os deslumbrantes templos budistas e seus monges sorridentes. A língua oficial, praticamente incompreensível, é o Lao, que pertence a mesma família do tailandês.  E foi também aquele o idioma do casamento, que aconteceu em Luang Prabang, cidade considerada Patrimônio Cultural da Humanidade,  localizada a 140 km da capital do país, Vientiane.

Depois daquele e-mail, prontamente respondido, o casal nunca mais tocou no assunto. O Laos era o penúltimo destino da viagem e foi Julian quem buscou, dessa vez, saber mais sobre o ritual que haviam lido na internet. “O homem do hotel disse que não era tão simples assim: só chegar e fazer. A cerimônia não é coisa de turista, é uma tradição local, feita por um xamã e com envolvimento de pessoas da comunidade”, conta Fernanda.

O ritual, chamado Baci, teve participação ativa de 12 mulheres. Elas enrolaram nos corpos de Fernanda e Julian um xale branco e amarraram em cada braço do casal 12 barbantes, como símbolo de prosperidade e harmonia. De acordo com os costumes locais, o ser humano é a união de 32 espíritos e o desalinhamento deles pode causar até doenças. Mais do que fortuna, a cerimônia Baci resgata o equilíbrio e é celebrada em momentos importantes, como o nascimento, a união de duas pessoas, uma nova trajetória e até a morte.  

Fernanda e Julian não tiveram como testemunha seus amigos ou os pais, que foram informados por telefone trinta minutos antes da cerimônia. Posicionados em frente ao altar, montado no jardim do hotel, os noivos foram guardados pelas 12 mulheres, enquanto recebiam as bençãos do xamã. Embora a cerimônia tenha durado cerca de 20 minutos, a tradição Baci também exigiu que o casal dormisse com um arranjo de flores e que mantivesse os barbantes amarrados nos pulsos por três dias.

“Eu sempre fui uma romântica intensa, que sonhava em casar na igreja”, conta Fernanda, que acabou vestindo no seu próprio casamento “a roupa mais bonitinha que tinha na mala”. Julian utilizou uma calça verde de elefantes, que comprou às pressas, durante a viagem, uma vez que é proibido entrar de bermuda nos templos.

A cerimônia Baci não tem validade no Brasil, mas fez jus, na opinião deles, à história iniciada sete anos atrás. Para Fernanda, o namoro iniciado por messenger e abençoado por um amigo gay nunca foi convencional. “Só que ele trouxe muita coisa boa para a minha vida”. Julian diz que já se sentia casado, o que não o poupou de sentir a emoção do momento. “Eu fiquei igualmente nervoso, suei como nunca e fui até abanado por uma das mulheres durante a cerimônia”.

E como fica o sonho antigo do vestido branco e festa de arromba? Bem, acho que está claro que aquela menina cresceu e percebeu que o maior compromisso e o melhor presente que a gente pode oferecer à pessoa amada é a presença.