Quando Angelita se viu frente a frente com essas sete letrinhas, ela não se assustou. Nem poderia. “Eu me considero guerreira desde o início”, avisa essa baiana, de apenas um metro e meio de altura.
Filha de lavradores, Angelita nasceu em Jacobina, a 330 quilômetros de Salvador, no extremo norte da Chapada Diamantina. A Cidade do Ouro, hoje um destino ecológico, já foi fortemente castigada pela seca. A desidratação extrema levou sete dos 10 filhos gerados pela mãe.
A caçula Angelita sobreviveu e entrou na escola somente aos 9 anos. “Antes disso, os pais dizem que você vai só para rasgar papel”. Quando terminou a quarta série, ela seguiu em frente com os estudos depois de um acordo com a então professora. Em troca de uniforme, material escolar e livros, ela cozinhava, lavava e passava. Era tão pequenina, que precisava subir em um caixote para alcançar a pia e lavar a louça.
Ali ela permaneceu por cinco anos, até decidir, em 1989, vir para São Paulo. Duas irmãs já tinham se instalado na capital paulista e planejavam para a caçula um destino diferente: o de trabalhar em uma fábrica. Até que a tão sonhada vaga aparecesse, trabalhou como feirante na Cohab 2.
Um ano depois, ela foi contratada para trabalhar no restaurante de uma planta da Coca-Cola, onde fazia de tudo: de varrer o salão a servir a comida. Começou a se sobressair sem que ninguém lhe ensinasse nada. “Não havia curso sobre como atender as pessoas. Era tudo na base do olhar, na observação. Eu atendia desde o pessoal da fábrica, que pegava aquele monte de feijão, até as meninas do escritório, que pegavam aquele pingo de comida”. O número de refeições era contado e Angelita desenvolveu por conta própria a estratégia para agradar seus clientes. “Eu comecei a dosar: para as meninas eu dava os bifes menorzinhos e para os meninos, os maiorzinhos. Foi assim que comecei a ganhar o povo”.
Foi lá também que ela conheceu o marido, Joaquim, um mineiro que viu em São Paulo a oportunidade para crescer e ajudar os pais. Na época, Angelita repartia seu salário em três frações: a primeira ajudava a irmã a pagar o aluguel, a segunda era enviada para a Bahia e o que restava ela usava para viajar – às vezes duas vezes por mês. Foi nas excursões para a praia e para Aparecida que ela e Joaquim se conheceram melhor, casaram e tiveram dois meninos.
Em 1998, já prestando serviço para outra empresa, uma multinacional, ela conheceu Fábio Marques. Em um intervalo dos treinamentos, ele pediu o e-mail das duas copeiras que preparavam o coffee break com tanto carinho. A mensagem chegou no fim do ano e mudou a vida de Angelita. “Quando fui responder desejando Feliz Natal, ótimo Ano Novo e muito sucesso, eu percebi que eu não sabia escrever aquela palavra. Só que eu decidi ali que eu não ia procurá-la no dicionário, eu tinha que voltar a estudar”.
Aos 39 anos, Angelita entrou novamente em uma sala de aula e teve sua trajetória alterada por Oswaldo, um professor de Filosofia e História, que a induziu a pensar no futuro. “Ele perguntou o que eu ia fazer quando pegasse a previdência. Dizia: ‘você não pode parar de estudar e ir para casa ver novela. Você é tão inteligente e tem tanta gente precisando de ajuda”.
Ela até pensou em fazer gestão comercial, mas foi desacreditada por Oswaldo. “Ele me disse que, aos 39 anos, nem estágio eu conseguiria em uma empresa”. Desenhou, então, seu futuro: os possíveis cursos e as oportunidades. “Ele dizia: não existe professor de filosofia, então o que você mais vai ter é vaga para dar aula”.
Friedrich Nietzsche disse que “quem tem uma razão de viver é capaz de suportar qualquer coisa”. Depois do vestibular, a vida de Angelita ficou ainda mais difícil. Sua rotina era acordar às 4h15 para ir ao trabalho e de lá para a faculdade, de onde só saía às 22h30. O percurso de duas horas até a sua casa era feito de ônibus para ter mais tempo para ler. Dormir? Só a partir da 1h, depois de fazer um miojo e ler mais um pouquinho.
Nem nos fins de semana, ela tinha descanso. Acordava religiosamente às 6h da manhã para três horas de estudo, antes de se dedicar à casa e à família. E acreditem: ela nunca foi vista reclamando da privação de sono. “Muito triste eu ficava quando, às vezes, eu só conseguia ler o capítulo e não o livro todo”.
Na faculdade, Angelita enfrentava um embate de realidades. A turma de 22 alunos era dividida basicamente entre jovens seminaristas de 18 anos e outras 10 pessoas que estavam ali em busca de uma segunda ou terceira graduação. O mais velho tinha apenas 31 anos. Nenhum deles servia café para viver. “Tive muita dificuldade de me adaptar a eles, para que entendessem o meu objetivo. Durante os três anos de curso, um dos rapazes não respondeu nem uma vez ao meu boa noite”.
Sócrates disse que “o segredo do sucesso é focar toda a nossa energia não em lutar com o antigo, mas em construir o novo”. Por isso mesmo, Angelita nunca tirou os olhos do seu objetivo: uma vez encerrada a carreira no Café, ela quer ser uma ótima professora do Estado. “A Filosofia me ensinou a conviver melhor em sociedade e a ter mais vontade de lutar pelos meus ideais. Ela tem o poder de te ajudar como ser humano e a fazer com que você ajude os outros também, a fazer as pessoas enxergarem outros horizontes”. E Angelita também os vê. Na estrada para realizar os seus objetivos, ela abraça outras oportunidades que surgem. Já começa a dar palestras e vislumbra, talvez, um futuro como coaching.
Maquiavel, seu pensador favorito e autor de O Príncipe, adverte: “dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é”. Desde que tropeçou no sucesso, Angelita vem descobrindo e inspirando sonhos. E ensina ainda o caminho: “A vida é feita de ousadias e, quando você ousa, as coisas acontecem”.
09/10/2015 at 10:04 pm
Tatiane Lima muito obrigada!!!
A sensação de lê minha própria história, é uma mistura de sentimentos ,que me faz acreditar que tudo vale a pena.
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10/10/2015 at 12:31 am
Parabéns, Tati! Que história linda a da Angelita, um exemplo para todos e uma pessoa espetacular.
Muito bom
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10/10/2015 at 1:40 am
Angelita, história linda! Vc é um exemplo para todos. Hoje por coincidência, comentei sobre vc á um colega aqui da Schneider Curitiba, em um trecho da Reunião da Tânia, ela cita vc como exemplo. Ele perguntou quem é essa “Angelita”. Resumi dessa maneira, se ela fosse uma vendedora da compamhia, ela seria a melhor, foco total no cliente……..💜 e contei sua história. Bjus Renato Tadeu
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10/10/2015 at 5:00 pm
Me sinto grata por ter a oportunidade de ler essa história tão linda, e mais ainda por conhecer essa pessoa tão incrível que é a Angelita…
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10/10/2015 at 10:29 pm
Srta. Tatiane,
Excelente texto, muito bem escrito.
Angelita é daquelas raras pessoas que são protagonistas de sua propria história. Sorte e privilégio de quem a conhece!
Saudações cordiais
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10/10/2015 at 11:00 pm
Que saudade de você, Angelita!
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11/10/2015 at 4:39 pm
Angel, sua simpatia conquista todos… Tentei pensar em algo pra te escrever mas o seu nome já diz tudo
É o diminutivo espanhol de Ângela, versão feminina de Ângelo que vem do grego Ággelos, que significa “mensageiro”, a partir do latim Angelus, que quer dizer “anjo”.
Você é um anjo que muitos de nós tivemos a oportunidade trabalhar. Continua nessa pegada que somente a Vitoria a você pertence
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12/10/2015 at 2:53 pm
Aqui é o Fábio Marques, citado por Angelita nessa matéria.
Para mim, foi um privilégio conhecer a Angelita. Sinto-me honrado em fazer parte da história de sucesso dela. Mas, deixo claro que ela tem luz própria e é a principal responsável por suas conquistas. Ela foi tão importante para minha vida profissional quanto eu fui para a dela. Angelita é uma inspiração para todas as pessoas que tem a sorte e o privilégio de conviver com ela.
Um abraço a todos, com meus votos de saúde e sucesso, sempre.
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13/10/2015 at 5:13 am
Oi Fábio! Que legal que a história chegou até você. Parabéns e muita saúde e sucesso a você também!
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12/10/2015 at 4:36 pm
Parabéns, mais um belo exemplo de que não há idade para recomeçar.
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15/10/2015 at 1:55 am
Parabéns Angelita! me emocionei com sua história, depois de ler tudo isso só foi mais um incentivo pra mim continuar em busca dos meus sonhos.
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15/10/2015 at 7:15 am
Parabéns, é de pessoas assim que esse mundo precisa, determinada e objetiva
Muito feliz por VC
Que DEUS te abençoe.
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16/10/2015 at 12:41 am
Angelita e uma guerreira, impressiona o quanto ela sabe tratar as pessoas, nos surpreende sempre !! Aprendi muito observando ela em 8 anos de convivencia e levo seu exemplo comigo !!! Parabéns Angelita !
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26/10/2015 at 11:53 pm
Poxa já admirava está mulher, que é muito especial, e lendo está trajetória, até me emociono, e paro para pensar que há pessoas, que são realmente colocadas na nossa vida por Deus.
Parabéns Angelita! Por ser está pessoa maravilhosa que você é…
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17/10/2018 at 10:20 pm
Linda história, linda pessoa que tive a honra de conhecer, me ajudou muitoooo….. Pessoa merecedora de tudo de maravilhoso que a vida pode oferecer.. Gratidão!!
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