mailbox-2628851_640

Eu escrevi uma carta de amor e coloquei no correio, exatamente como fazia quando era mais jovem. Eu simplesmente ignorei a facilidade da internet: escrevi a carta, preenchi e selei o envelope, fui ao correio, peguei senha e enfrentei pacientemente a fila. Observei, sem pressa, o atendente manchar o envelope com carimbos e selos, respeitando o trabalho que completava meu ritual. Eu nunca esperei uma resposta, porque só precisava expressar o que sentia e o que pensava. Do momento em que aquela carta deixou minhas mãos, eu nunca mais pensei nela, nunca mais olhei para trás. Estava feito.  

Dizem que todo mundo lembra onde estava no fatídico 11 de setembro de 2001, quando as torres gêmeas foram atingidas por ataque terrorista. Pois o tempo não preservou na minha memória somente notícias tristes: tenho também viva a lembrança de onde estava e o que fazia naquele 13 de março de 2013. Eu estava em um emprego que também me deixou muitas lembranças boas. Tinha menos de dois meses na nova posição. Lembro-me do dia ensolarado, espiado de longe, já que a minha mesa ficava  bem no meio da galera e longe da janela. Enquanto negociava a entrevista de um executivo para um um amigo jornalista, brinquei:

– Que não ganhe o argentino!

Mordi a língua pouco algumas horas depois. Jorge Mario Bergoglio tornou-se o Papa Francisco e sepultou, pelo menos para mim, a rivalidade marota entre os dois países. Afinal, sobram razões para se encantar por ele: seu sorriso é fácil, suas palavras são doces e suas atitudes, consistentes e coerentes, são um bálsamo em um mundo que teima em viver de cabeça para baixo. Do alto da Praça São Pedro, ele fez naquele dia um rápido discurso e pediu, pela primeira vez, orações para si. Eu não pude deixar de notar que a figura mais poderosa da Igreja Católica mostrou-se humildemente…humano.

Em janeiro de 2017, eu corri para assistir o programa que a Netflix lançou sobre a vida do Papa Francisco. Fiquei impressionada e comovida com a consciência que ele  demonstrou sobre a sua missão. Senti-me inspirada pela sua resiliência e dedicação Menos por impulso que por convicção, agarrei um papel e risquei-o com o meu esforçado Portuñol. Em poucas linhas tortas, disse que seu pedido de oração foi ouvido e atendido. Mais de uma vez. Sem ele nem pedir.

Eu nada esperava em troca, tampouco tinha garantias de que a carta atravessaria o Atlântico e pousaria em suas mãos. Tinha para mim que a jornada empreendida, em atos e palavras, já era suficientemente forte para acender uma estrela, reforçar a proteção e aquecer o coração do Papa. A missão estava devidamente cumprida.

Muitos meses depois, meu porteiro me entregou um maço de cartas: eram contas para pagar, muita propaganda e um último envelope, que eu jurava ser de alguma instituição pedindo ajuda financeira. Não era.

Era a resposta da minha carta de amor. Ela não foi assinada pelo papa, mas por um assessor. Em português, ele dizia que meus votos haviam chegado até Francisco, que desejava a mim e à minha família felicidades e graças divinas. Eu chorei, ainda no elevador, quando li aquele pedaço de papel. Chorei mais quando contei a história para os meus pais. É um sentimento tão forte, que se mantém em mim, semana após semana.

Ora, eu sei o que você está pensando: “ah, mas a carta não chegou nele” ou “a resposta nem foi dele”.  Eu lhe entendo e sei também que é (quase) impossível convencer-lhe do contrário. Talvez eu mesma não acreditasse nisso até pouco tempo atrás. Acontece que hoje eu acredito que aquela inesperada carta também acendeu uma estrela em mim, reforçou minha proteção e aqueceu meu coração do mesmo jeito, com a mesma intensidade, com o mesmo calor que a que escrevi.

Desde então, esbarrei em várias mensagens que corroboram e explicam essa experiência. A Tatiane Guedes, por exemplo, disse que nós, seres humanos, estamos  conectados por um cordão, como as singelas luzinhas de Natal.  Já o Sri Prem Baba explicou que, quando nós enviamos nossa energia em direção ao outro, como em um simples gesto pela felicidade de alguém, nós nos tornamos um canal de amor. “Como resultado, o outro recebe os frutos do nosso amor”.  Suspeito que foi exatamente isso que aconteceu entre remetente e destinatário, entre destinatário e remetente, entre mim e o Papa.

Nunca tive dúvidas de que as palavras cravadas no papel ajudam a curar, a compreender ou simplesmente a sentir. Com essa experiência, tenho certeza também de que nada é mais forte que esse cordão invisível, com alcance inimaginável, que nos une. É ele, o Amor, o propulsor da energia mais limpa e sustentável da Terra. Ele dificilmente rende capa de jornal, mas é a arma mais poderosa já criada pelo ser humano. Duvida? Então, experimente. Envie hoje uma carta de amor.