Gabi, de apenas quatro anos, esperou a semana toda pela festinha em um lar, que não é o seu, mas que frequenta desde o tempo em que era uma sementinha na barriga da mamãe. Foi a amiga Maria Inês quem puxou Cristina pela mão, lá em 2009, e a levou para conhecer um sobrado no Jardim Bonfiglioli, onde reina a solidariedade e o amor. 

A avó e a tia da Gabi, grandes parceiras de vida de sua mãe, também estavam presentes. O trio sempre participou de iniciativas promovidas pela Casa do Caminho, onde  conheceram a amiga que as apresentou a esse lar muito especial. “O amor da Maria Inês, ao relatar a história da casa, foi inspirador para nós três. O nosso desejo de continuar o trabalho direcionado à criança foi o que nos fez virar frequentadoras”.

Com duas sedes, uma no Jardim Bonfiglioli e outra no Jabaquara, o Lar Vinicius acolhe crianças abandonadas, vítimas de violência ou em situações de riscos. Seu nome é uma homenagem ao pseudônimo de Pedro de Camargo, escritor, educador e evangelizador piracicabano.

Sensibilizada, Cristina abraçou a missão da casa,  morada de centenas de crianças em 24 anos de existência, e se tornou voluntária ou, como diz, parte da família nota 1.000. Integrou, durante muitos anos, a diretoria da entidade e faz hoje parte da equipe de marketing, dedicada a arrecadar doações de pessoas e empresas.

Para gerar conexão, conta com a sua própria história, porque, mais do que ver, ela sente a sua vida se transformar com esse trabalho. “Vivo um processo contínuo de autoconhecimento. No início, revivi as lembranças mais profundas da minha infância”. A gravidez só aprofundou essa experiência, realçando os instintos femininos primitivos de proteção, sobrevivência, cuidado e afeto. “Hoje não tenho dúvida do quão significativo esse trabalho é para a minha vida. Foi a forma que encontrei para dizer não à violência e lutar pelo que acredito e defendo”.

Como não poderia deixar de ser, Gabi foi fisgada ainda na barriga. “Ela é minha parceira na arrecadação de doações”. E está sempre animada para participar das festinhas e trocar com as crianças, muitas da sua idade. “Ali ela aprende a lidar com situações fora da sua zona de conforto, sobrevivência, solidariedade, compaixão e amor. Aprende a ser forte”. Como integrante da família do Lar Vinícius, a garotinha até puxa a orelha da mãe quando há alguma falha na missão. “Na festinha de aniversário, quando chegou a hora dos parabéns, a Gaboca me chamou de lado e falou baixinho no meu ouvido: onde está o presente? Fiquei com a cara no chão. Na correria, entre pegar as doações e os docinhos da vovó, esqueci o presente”.

No Lar Vinícius, Cristina expande sua atuação, consciência e coração. “A partir do momento em que nos colocamos no lugar do outro, ou tentamos mensurar a dor do próximo, tornamo-nos mais solidários e conscientes de quem somos”. A vida, inclusive em família, muda. “Quando existe o pensamento de que juntos somos mais fortes, a união familiar fica muito mais consolidada, porque simplesmente geramos amor”.

O poder da doação é, na visão de Cristina, capaz de mudar mentes e corações. “O voluntariado é como um bombeiro: só cuida da alma, apaga as chamas da dor sem esconder as cicatrizes, traz à consciência nossas calamidades e traduz quais são os verdadeiros problemas da sociedade”.

As portas do Lar Vinicius estão sempre abertas para doações de dinheiro, roupas e corações. As mãos da Cristina e da Gabi também estão para acolher e guiar quem quiser experimentar despertar e exercer o seu próprio poder.