Às vezes, as palavras ficam entupidas. Não é um simples bloqueio criativo; é uma obstrução provocada pela recusa dos neurônios a fazer certas sinapses. Talvez haja algo que ainda não pode ver a luz do dia; talvez esse algo esteja ainda sendo gestado.
Marina, durante “Encontro com Escritores”, promovido pela Casa Museu Ema Klabin
“Sou completa”, disse a elegante senhora, sem falsa modéstia ou arrogância. Artista plástica, ilustradora e escritora, Marina Colasanti, a dona de quatro Jabutis, entre outros prêmios, encanta com a sua sabedoria e simplicidade.
Aos 85 anos, ela tem a elegância de quem não se rende a modismos, de quem não quer convencer ninguém de nada, muito menos carregar ideias ou palavras de outras pessoas só para agradar ou se sentir parte de algo. É daqueles raros seres que mais querem ouvir e refletir do que falar, mesmo sendo o centro e a razão de encontros como o promovido pela Casa Museu Ema Klabin, um dos espaços mais privilegiados, em todos os sentidos, de São Paulo.
A jovem sentada à beira do rio tinha os olhos no balanço das águas ou, pensei, nas batidas da música que escapava pelos discretos fones. Seu cabelo liso escondia o rosto lavado por lágrimas, derramadas por um passado que teimava em se fazer presente. Seu olhar não conseguia disfarçar a tristeza que lhe acometia e que por tantos passava despercebida.