Às vezes, as palavras ficam entupidas. Não é um simples bloqueio criativo; é uma obstrução provocada pela recusa dos neurônios a fazer certas sinapses. Talvez haja algo que ainda não pode ver a luz do dia; talvez esse algo esteja ainda sendo gestado.
Marina, durante “Encontro com Escritores”, promovido pela Casa Museu Ema Klabin
“Sou completa”, disse a elegante senhora, sem falsa modéstia ou arrogância. Artista plástica, ilustradora e escritora, Marina Colasanti, a dona de quatro Jabutis, entre outros prêmios, encanta com a sua sabedoria e simplicidade.
Aos 85 anos, ela tem a elegância de quem não se rende a modismos, de quem não quer convencer ninguém de nada, muito menos carregar ideias ou palavras de outras pessoas só para agradar ou se sentir parte de algo. É daqueles raros seres que mais querem ouvir e refletir do que falar, mesmo sendo o centro e a razão de encontros como o promovido pela Casa Museu Ema Klabin, um dos espaços mais privilegiados, em todos os sentidos, de São Paulo.
A jovem sentada à beira do rio tinha os olhos no balanço das águas ou, pensei, nas batidas da música que escapava pelos discretos fones. Seu cabelo liso escondia o rosto lavado por lágrimas, derramadas por um passado que teimava em se fazer presente. Seu olhar não conseguia disfarçar a tristeza que lhe acometia e que por tantos passava despercebida.
Neste 21 de setembro, Dia da Árvore, celebro como a nossa relação com o mundo se transforma com o passar dos anos. Na infância, as árvores são um playground. Tá, tá bom, eu confesso que não tinha lá muita competência para escalá-las, mas adorava colher seus frutos, folhas e flores para fazer comidinhas que nem as minhas bonecas engoliam. Quem sabe essa brincadeira inocente já era um presságio de que, adulta, eu me tornaria vegetariana e me divertiria descobrindo novas formas de consumir os mais diferentes legumes e verduras.
Em minha vaga lembrança de menina, minha avó morava em uma pequenina casa de abóbora, em meio a árvores esguias e flexíveis como bailarinas. Em um dia úmido de primavera, convidou-me para um passeio nos fundos, onde o mato estava tão alto que espetava minhas pernas e arranhava os meus braços. Ela parou junto a uma mesa e duas cadeiras já enferrujadas.
O sonho deste paulistano anônimo sempre foi ser caminhoneiro, pois se existe um lugar onde se sente confortável, é atrás de uma direção. Ele começou a trabalhar cedo – aos 5 anos, já entregava os sapatos engraxados pelo pai, analfabeto e portador de deficiência, que nunca deixou faltar em casa arroz, feijão, farinha e carne. Além de lustrar sapatos, ele também cuidava dos jardins da vizinhança, cultivando no filho valores nunca esquecidos.