Tirei essa foto na porta de uma igreja enquanto espiava o casamento de um jovem casal. O noivo chegou acompanhado dos amigos, em motos que rosnavam. A noiva foi mais discreta, em um carro pequeno, onde só havia espaço para ela e os pais. Quando entrou na igreja, ele chorou copiosamente. As lágrimas de amor dele provocaram os neurônios-espelho dos demais, inclusive de quem nem os conhecia. 0/
Continuar lendo “O Amor”Nós nos aproximamos na fase adulta, e a afinidade foi instantânea. Descobri com ele que certos amores são raros: não fazem morada na gente como uma paixão avassaladora. Há aqueles gentis e moderados, não menos intensos ou importantes, que marcam presença nos momentos de alegria e de tensão.
É assim que me sinto com ele, que não me tira o sono – só me injeta coragem para enfrentar a folha em branco de cada dia.
Continuar lendo “Amor à moda antiga”Emília não gostava de música, encontrava-se nos livros. Não sonhava com o príncipe encantado, mas em ser livre. Por isso, tinha sempre um verbo afiado na boca. A família e as amigas não se conformavam e a obrigavam, vez ou outra, a sair de casa. Foi em um baile, o evento mais esperado pela pequena cidade, que ela conheceu um rapaz de cabelo engraçado e óculos redondo. Sua voz tinha um ritmo diferente e suas mãos bailavam com o vento, como se ditassem as notas ao seresteiro.
Continuar lendo “Entre notas e letras”Em outros tempos, em uma outra época, a gente se encontraria em um café despretensioso, onde você notaria como brinco com a colher, só para acariciar o café amargo, em um súplica silenciosa para ter coragem para fitar seus olhos.
Continuar lendo “O primeiro encontro”Julia e Juliana eram gêmeas idênticas – pelo menos, na aparência. Mais velha, Julia vivia no futuro, listando onde queria estar nos próximos 5 e 10 anos. Mais nova, Juliana vivia no presente, desapegada do relógio, dedicada ao agora.
Julia vivia uma ansiedade incondicional, perseguindo o que queria implacavelmente, insatisfeita com o ritmo e com os resultados, ainda que temporários. Juliana vivia uma tranquilidade incondicional, uma tarefa por vez e uma fé inabalável na conspiração arquitetada pelo Universo para suprir suas necessidades.
Continuar lendo “As gêmeas”
Ela o carregava dentro de uma bolsa pequena de couro marrom. Uma biblioteca compacta, com livros em Português, Espanhol e Inglês, dos mais diferentes gêneros, apropriados a diversas situações, propósitos e humores.
Era a ele que ela recorria no metrô ou na sala de espera do dentista; entre reuniões ou nas fugas repentinas para um almoço solitário, só para terminar aquele capítulo que lhe esmagava o peito.
Continuar lendo “A moça do Kindle”
fui sendo engolida
sem colocar medida
por uma força maligna
discreta e inimiga

Era o século mais pacífico
até este momento
até um vírus expor a doença
que já existia
já provocava dores
já provocava separações
já se mostrava desumana
Continuar lendo “Guerra”