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Poeta II

No supermercado, enquanto cheirava as mangas, Ana encontrou aquele que parecia ler sua alma nos livros e posts que escrevia e publicava.

Aproximou-se do poeta, perdido entre peras e melões. Ela nem esperou que ele se decidisse. Disparou a falar com o dedo à altura do seu discreto nariz:

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Poeta I

Todos os dias ao acordar Ana corria para a internet. Não se importava com as notícias, não lia o horóscopo, consumia somente poesia. De um único autor.

Naquela manhã, ele tinha postado uma carta de amor. Cada palavra parecia datilografado no coração de Ana:

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O invisível

Ela saiu da reunião e logo trocou o salto pelo tênis. O céu riscado chorava lágrimas finas, tão diferentes daquelas que Juliana segurava dentro de si. Ela respirou fundo e sentiu a bile da rejeição subir à boca. Era só mais um dia de autoestima dilacerada, pensou.

Procurou na bolsa a sombrinha, deixada no conforto do sofá de casa. Enfrentou a rua com a cabeça erguida – não por orgulho, para sobrevivência. A cada passo sua roupa ficava mais encharcada; sua alma, mais pesada. Resistir era exaustivo.

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Quarta-feira de Cinzas

Sou óbvia, sou única

Sou fria, sou úmida

Sou uma praia paradisíaca

Sou areia movediça

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50 anos sem Tarsila

Tarsila do Amaral – Autorretrato

Ninguém mais pode explicar esse autorretrato como a própria autora: “Para mim, um retrato é coisa tranquila, séria, definitiva, como um monumento que a gente contempla sem se cansar.”

E não é?

Tarsila do Amaral morreu em 17 de janeiro há exatos 50 anos. Tornou-se um dos pilares da Semana de 22, mesmo não tendo participado dela. Trouxe para as artes plásticas do Brasil elementos novos, apaixonou-se pelo regionalismo, exercitou vários estilos e se tornou, 47 anos após o seu falecimento, a artista com a tela de maior valor já pago em leilão público no Brasil. E não estou falando do “Abaporu”, mas do quadro “Caipirinha”.

Morreu no hospital, de complicações pós-operatórias, aos 83 anos. Teve uma vida inspiradora – virou fonte de poemas para Mario; de romance, para Menotti; de amores, para Oswald, que lhe roubou o chão ao trocá-la por uma mulher mais jovem.

Foi descrita pelo colunista social José Tavares de Miranda da seguinte maneira: “Tarsila mede 1 metro e 64 centímetros, descalça. Pesa 60 quilos (vestida). Sabe comer muito bem e aprecia a cozinha francesa. Seu prato predileto é “civet de lapin”. Adora os bons vinhos. Em materia de doces é bem brasileira. Gosta demasiadamente da cocada à antiga, isto é, com bastante gema de ovo. Bebe religiosamente seu cafezinho à paulista. Nunca passou sem possuir uma boa adega em sua casa, mas adora a sua batidinha “Pau Brasil”, bebida de sua criação e servida em suas festas. Receita: pinga e gim em partes iguais; limão, açúcar, clara de ovo bem batida e gelo. Adora jaboticaba. O primeiro livro que leu na vida foi o “Tronco do Ipê”, de José de Alencar. Livros de cabeceira: o “Dom Quixote” e a “Odisseia”. Não fuma, é espiritualista, tem horror aos gordos em geral e às borboletas gordas em particular. Adora jardinagem. Prefere pintar de noite”.


Contudo, a melhor sentença, esta sim definitiva, é a do imortal Manuel Bandeira: “Nunca vi boniteza tão brasileira como a da pessoa e dos quadros de Tarsila”.

U m m i n u t o d e c a d a v e z

Foto: @tatirlima (IG)

Às vezes, as palavras ficam entupidas. Não é um simples bloqueio criativo; é uma obstrução provocada pela recusa dos neurônios a fazer certas sinapses. Talvez haja algo que ainda não pode ver a luz do dia; talvez esse algo esteja ainda sendo gestado.

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Folha em branco

depois de dois verões

o inverno chegou

a neve lá fora

alonga os minutos aqui dentro

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Sinto falta da poesia…

Foto: @tatirlima

Da visita da joaninha bem-vestida
Do contágio pela música no rádio
Do alívio com a garoa fina
Da cura de um abraço apertado
Do cheiro de café que inebria
Da fruta roubada do pé
Do destempero das maritacas
Do olhar de quem arde de paixão
Dos retratos amarelados de outrora
Do propósito inabalável das formigas
Da alquimia de temperos na cozinha
Da sabedoria silenciosa de uma árvore
Da dor na barriga pela gargalhada
Do encanto do simples e essencial
Da santidade de um beija-flor
Da surpresa do inesperado
Da lágrima corajosa de uma emoção Da leveza da borboleta se despedindo da vida

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