Eu já conhecia Isabel há algum tempo, mas só me conectei com ela quando a vi falar sobre suas dores e alegrias, sem lamentos ou excessos. Vi-me diante de uma mulher sóbria, com voz firme e pausada, sem vergonha de contar tudo que viveu.
A senhorinha encostou-se no muro baixo da casa, como se estivesse colando a barriga em um balcão de bar. Em vez de bebidas, frituras e guloseimas, ofereceu histórias sobre os outros habitantes da casa – 3 gatos e 1 cachorro. “Quem briga são os humanos. Esses aí convivem muito bem”, avisou, espatifando sem dó qualquer crença baseada em Tom e Jerry.
É assim que ela está hoje. Encostada em um canto. Já registrou números, dinheiro, histórias. Com o tempo, perdeu seu vigor e até importância. Passou a registrar o tempo e as mudanças que ele inevitavelmente traz.
Eu já quis ser uma dessas pessoas que nunca olha para trás, mas a verdade é que dou sempre aquela espiadinha pelo espelho retrovisor. Sou dessas que gosta de recordar pessoas e experiências. Às vezes, dou marcha ré e estaciono por um tempo, mais do que deveria, talvez por não estar pronta para a despedida definitiva; às vezes, me deparo com novas perspectivas sobre velhos acontecimentos e sentimentos, algo que só a distância e a idade fazem por nós. Nesses momentos, limpo a lagriminha que embaça a visão e deixo a #gratidão preencher meu peito.
De todos os sonhos a se tornarem realidade, 2020 escolheu bem um que mais se parece pesadelo: sair pelada na rua. A primeira vez (sim, teve mais de uma!) foi em um sábado ensolarado de Primavera. Nas primeiras horas da manhã, a cidade ainda adormecia e até os passarinhos pareciam mais preguiçosos. Lembro da brisa fresca, do colorido da árvores e da sensação de liberdade.
Um vento indigesto, quente e seco, de dia; nem uma brisa à noite.
A cortina do meu quarto parecia pregada à janela, e o lençol fino, uma flanela áspera. Nada trazia alívio. Nem vou falar da aflição com o suor que escorria na dobrinha do joelho, com o cabelo grudado na nuca.
O pedido ou a poesia no banco de madeira (Foto Pessoal)
Era outubro de 2015. Um vento desaforado arrastava as folhas secas pelo chão de concreto e insistia em embaralhar os galhos das árvores que ciceroneiam os visitantes da Igreja da Santíssima Trindade, em Stratford-upon-Avon. Frank e Ivy passaram, provavelmente, muitas vezes por ali. Deixaram sua presença gravada em um banco de madeira, uma história que passa despercebida por olhares apressados, que pouco registram a natureza abundante ao redor daquele templo.