Foto: Arquivo Pessoal

Eis-me aqui, embora muitos passam por mim sem me reconhecer. Tornei-me uma anônima – ou, simplesmente, mais uma entre tantas outras sem status algum.

Tento me convencer de que os meus quarenta e pouco anos, dispostos ainda em uma cintura fina, não chamam tanto a atenção. Ou, talvez, não tenha os atributos para fazer história embora de história seja feita.

Meus ancestrais habitaram essa terra bem antes de ela ser “descoberta”. Ocupavam toda a região litorânea, do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte, formando arranha-céus naturais de até 30 metros de altura.

Quem aqui mais tarde chegou rendeu-se aos nossos encantos de uma forma esquisita. Em vez de louvadas, fomos perseguidas, exploradas e aniquiladas por mais de 300 anos. Transformaram-nos em objetos inanimados; com o nosso sangue tingiram a nobreza. A fama não garantiu a nossa sobrevivência, mas o extermínio.

Entramos para os livros de História e de Biologia, mas não para o coração dos filhos humanos dessa terra, cujo nome remete a mim, Caesalpinia echinata. Que ironia do destino!

Poucos se deram conta de que o único país do mundo a ter nome de árvore a maltratou a ponto de quase dizimá-la. Essa conta ainda não chegou para todos, mas vai chegar.

Sou o símbolo de um país, que deturpou o amor em nome da ordem e do progresso. Por isso, vivo protegida e sobrevivo esquecida. Até quando?

Não sei.

Ergo-me diante da realidade, de quem sou vítima e testemunha silenciosa. Cumpro o meu papel ainda que a minha presença passe despercebida, que minhas flores não sejam admiradas, que minha sombra não sirva de colo. Espalho minhas sementes porque não deixo de acreditar no futuro.

Eis-me aqui.

Pau-Brasil