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Doce Viagem

O melhor da vida na nuvem

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crônica

[Paulistanos Anônimos] O que a vida quer da gente?

Difícil não reparar em B — e não falo do porte físico bem definido, mas da presença. Sempre bem-humorado, educado e ágil. Por isso, sou sempre atraída para o caixa dele, mesmo que esteja mais movimentado.

Um dia, entre um item e outro, ele revelou que gosta de cantarolar mesmo quando está triste. Contou que, embora seja comunicativo, tem dificuldade de expressar o que sente, então por meio de uma música ele consegue atravessar o que incomoda e libertar o que não serve.

Ontem, ele estava treinando uma colega para operar a balança, o caixa, tudo. “Mas a melhor parte,” disse para ela, “são os clientes. Poder conhecer pessoas novas, trocar ideias.” Contrariando o filósofo, que disse que o inferno são os outros, para ele, não é. Não mesmo.

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D: A História de um Recomeço

(Fonte desconhecida)

Assim que entrei no carro, a primeira pergunta que fiz ao motorista foi: “como eu pronuncio o seu nome?”

Até então, eu nunca tinha visto tantas vogais juntas.

Ele esclareceu. E repetiu. Mais de uma vez.

Perguntei se havia algum significado no nome. “Se tem, só a minha mãe sabe, pois ela o inventou – o meu nome e o de oito dos meus dez irmãos”, disse.

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Para acolher novos tempos

O pequeno feixe de luz que atravessava o quarto empoeirado por uma fresta da janela era uma presença solitária naquela casa amargurada pelos ventos opostos que insistiam em chacoalhar sua estrutura.

O clima naquela região do país havia mudado bruscamente – a primavera, em vez de colorir e perfumar os ambientes, ressecava as paredes externas, que despelavam em camadas cada vez mais profundas; o verão, agora de escassas tempestades, expirava para dentro da casa o cheiro de mofo das memórias de dias felizes cada vez mais distantes; as rajadas de vento do outono rasgavam os papéis de parede, expondo feridas antigas, mas ainda presentes no concreto esfacelado; o inverno, enfim, selava os ecos das sombras durante as noites extensas e geladas da mais pura solidão.

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Entre

Fico pensando no vício do imediatismo, como queremos tudo para ontem, para não perder tempo, ainda que o tempo já esteja irremediavelmente perdido.

Fico pensando nessa insistência pela recompensa, como se nosso cérebro só operasse sob essa condição, como se fôssemos seres onipotentes, controladores de tudo e de todos.

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