Fico pensando no vício do imediatismo, como queremos tudo para ontem, para não perder tempo, ainda que o tempo já esteja irremediavelmente perdido.
Fico pensando nessa insistência pela recompensa, como se nosso cérebro só operasse sob essa condição, como se fôssemos seres onipotentes, controladores de tudo e de todos.
Fico pensando em como ainda somos crianças indefesas, tementes à escuridão, aos raios etrovões, e aos longos silêncios entre os pingos de chuva. Corremos para acender a luz, paratapar os ouvidos e para cantar sem brio, na vã tentativa de afastar os maus espíritos. Bobagem!
Tornamo-nos especialistas em acumular tensões e neuroses, em disfarçar frustrações, em seguir multidões, em fugir da tentação de apostar em criações únicas, inteiras e verdadeiras, capazes de encantar gerações fora do tempo presente.
Temos pressa para construir um legado que não nos pertence, cuja beleza é impermanente e que depende da aceitação de mergulhar e viver entre.
Entre a sanidade e a insanidade.
Entre a felicidade e a infelicidade.
Entre a abundância e a escassez.
Entre a ansiedade e a paciência.
Entre a desumanidade e a consciência.
Entre.
Artigo originalmente publicado no blog Mais Um Café?.
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