O escritor espanhol mais vendido deste século foi, talvez, o que melhor descreveu o amor pelos livros e o desafio que representa esse ofício de se debruçar sobre palavras para criar histórias de ficção ou não-ficção. Antes de se tornar escritor, aliás, ele fez carreira em Publicidade, abandonando esta profissão aos 28 anos para se dedicar ao seu sonho.

Além de conflitos incrivelmente emaranhados, a saga O Cemitério dos Livros Esquecidos, cujas obras podem ser lidas de forma independente, tem como protagonistas ou coadjuvantes escritores, que descrevem, em várias passagens, o poder das histórias e o romântico, porém penoso, trabalho para criá-las.

Em O Jogo do Anjo, um dos títulos da série, Carlos Ruiz Zafón ensina:

1. “O que quero é que encontre um modo inteligente e sedutor de responder às perguntas que todos fazemos e que o faça a partir de sua própria leitura da alma humana, pondo sua arte e seu ofício em prática. Quero que me traga uma narrativa que desperte a alma humana.”

2. “[as fábulas] Ensinam que os seres humanos aprendem e absorvem ideias e conceitos através de narrativas, de histórias, e não de lições magistrais ou discursos teóricos. Esse mesmo ensinamento é transmitido por qualquer texto religioso. Todos eles são relatos de personagens que enfrentam a vida e superam obstáculos, figuras que embarcam em uma viagem de enriquecimento espiritual através de peripécias e revelações. Todos os livros sagrados são, antes de qualquer coisa, grandes histórias cujas tramas abordam os aspectos básicos da natureza humana, situando-os em um contexto moral e no limite de determinados dogmas sobrenaturais.”

3. “A inspiração virá quando fincar os cotovelos na mesa, o traseiro na cadeira e começar a suar. Escolha um tema, uma ideia, e esprema o cérebro até doer. É isso que se chama inspiração.”

4. “A literatura, pelo menos, a boa, é uma ciência com sangue de arte. Como a arquitetura ou a música. (…) A única coisa que brota sem mais nem menos é pelo e verruga.”

5. “Um escritor nunca esquece a primeira vez que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe garantir um teto, um prato quente no fim do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso em um miserável pedaço de papel que certamente vai ver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento, porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço.”

6. “Os livros tinham alma, a alma de quem os tinha escrito e de quem os tinha lido e sonhado com eles.”

Quem disse que não há verdades na ficção?

*Artigo originalmente publicado no LinkedIn e no blog Mais Um Café?.