Nepal_Katmandu

A rotina de Lara pode ser parecida com a sua. Ela acorda cedo, pega dois trens para chegar ao trabalho e só volta para casa mais de 12 horas depois de ter deixado a sua cama. No ano passado, ela resolveu que também precisava turbinar o seu Inglês. Só que ela não escolheu a Inglaterra, os Estados Unidos, a Austrália ou o Canadá. Ela foi para o Nepal.

Somente quando desembarcou em Katmandu que Lara entendeu a reação de algumas pessoas à sua escolha. “Foi um choque. Quando eu cheguei, eu me senti realmente no meio do nada. O aeroporto é muito pequeno, tem muito pó nas ruas, as pessoas usam máscaras. Ao contrário do combinado, não tinha ninguém me esperando. Nem o motorista do taxi que eu dividi com um brasileiro encontrava o endereço onde eu ia me hospedar”.  

Verdade seja dita: ela havia sido prevenida sobre o que encontraria. O prospecto da agência de intercâmbio informava que o Nepal podia ser um destino difícil. A terra das montanhas, do Monte Everest, ainda é um país muito pobre e com sérios problemas de infraestrutura. Enquanto Lara sentia que aquele era o seu destino, a avó e a mãe achavam uma loucura. O médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, especializado em Medicina do Viajante, fez várias recomendações: de remédios a  se manter longe de certos alimentos e animais. “Eu não via problema, nunca tive frescura. Então, pensava: por que não?”.

Em Katmandu, Lara foi instalada em um alojamento com quase 30 pessoas de diversas partes do mundo. Os quartos eram compartilhados, assim como os banheiros. Embora tivesse uma cozinheira, algumas tarefas da casa estavam sob responsabilidade dos residentes, incluindo recolher o lixo e desentupir o ralo do banheiro. Assim como Lara, todos ali estavam em busca de se inserir na cultura local e viver uma experiência nova. Treinar o inglês era mais uma consequência.

Durante três semanas, ela dedicou seus dias ao trabalho voluntário. As manhãs eram destinadas ao programa Empower Women. “As mulheres no Nepal ainda são muito submissas, tratadas como crianças”. Além de não ter educação formal, são, muitas vezes, vítimas de abusos.  As tardes ela passava em um orfanato cuidando de crianças. No seu último dia, foi a um asilo, onde ajudou na limpeza do local e a alimentar os idosos.

O intercâmbio também incluía passeios nos finais de semana. Lara conheceu os templos e acompanhou cerimônias tradicionais, como as de cremação, nas quais as cinzas são entregues ao Bagmati, o rio sagrado local. Em todos os lugares, pelas ruas ou durante o trabalho voluntário, ela fitou pessoas cujos olhos exprimiam bondade e nos lábios sempre havia um sorriso, mesmo diante de tantas privações.

Um ano depois, Lara ainda se emociona ao falar da sua experiência.  “Foi a viagem que mudou a minha vida”.  Na terra natal de Siddartha Gautama, o Buda, ela se despiu de medos e preconceitos que até desconhecia e aprendeu que, acima de tudo, é preciso manter o coração aberto – a situações, a pessoas e à vida.