leandroeleonardo

Já estava escuro quando o pai chegou da fábrica onde trabalhava. Seu Maurício relutou a entrar na cozinha e tinha o semblante fechado. Fez o que pode para dar a notícia com cuidado: Leandro havia morrido. 

Os primeiros raios da manhã nem despontavam quando o carro foi ligado novamente rumo à Assembleia Legislativa de São Paulo.  Era importante para a filha, Tereza, despedir-se de Leandro e demonstrar seu apoio à Leonardo. Vestida com uma camiseta da dupla, a moça de 18 anos entrou na fila que já contornava o quarteirão. Pacientemente, de braço dado com a mãe, esperou sua vez para balbuciar, entre lágrimas, um “descanse em paz” ao ídolo.

O segundo objetivo não era tão fácil de ser cumprido. Leonardo não havia chegado e uma multidão de fãs se aglomerava à sua espera. Tereza era uma delas, mas em seu coração não havia histeria; só o desejo de expressar seu sentimento e emprestar um bocado de forças ao cantor. Os seguranças não permitiam a permanência de nenhum fã dentro da Assembleia – só família, amigos e jornalistas. Foi entre esse último grupo que ela se infiltrou, fingindo que o walkman era um equipamento de trabalho.

Determinada, ela logo se tornou, mais do que uma aliada, necessária naquele ambiente. Tereza conhecia de cor e salteado a história da dupla – cada mito e verdade, todo e qualquer personagem daquele se tornara um trágico folhetim. Aos repórteres passou a confirmar fatos, corrigir informações e dar nomes aos bois.

Um segurança atento notou os trajes e a falta de credencial da moça. Aproximou-se e lançou:

_ Você é mesmo da imprensa?

Antes que o pânico tomasse conta de Tereza, uma famosa repórter de TV a abraçou e disse:

_ Ela está comigo. É minha produtora!

E, foi assim, usando um crachá de uma grande emissora nacional, que ela esperou por Leonardo. Chegou até a conversar por telefone com a âncora do principal telejornal, mais curiosa por detalhes da dupla que em testar a súbita e anônima fonte.

Quando o tão esperado momento chegou, Tereza enxergou Leonardo entre lágrimas e flashes. À distância, ela envolveu-o em seus braços e buscou aliviar seu sofrimento, em uma sincera e intensa transfusão de amor e força. Da mesma forma que entrou na Assembleia, Tereza saiu. De mansinho. Aquele dia, porém, nunca foi apagado.

Mais de dez anos depois, ela foi à gravação de um DVD de Leonardo. Ele não a reconheceu, nem poderia. Tereza, na plateia, não ouviu uma música sequer; a emoção do reencontro e de uma vida de dores e amores em comum transbordou. As lágrimas se repetiram quando ela tentou assistir o DVD em sua casa. Nem ela sabe explicar. Como é possível ter tão presente em sua vida alguém que não tem nem ideia que faz parte dela?

Como um dia cantou Renato Russo, quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração?