É assim que o Museu da Imigração do Estado de S.Paulo deveria ser chamar. O motivo é óbvio: a Hospedaria de Imigrantes do Brás, onde funciona hoje a instituição, abrigou mais de 2,5 milhões de pessoas entre 1887 e 1978. Oriundos de 70 nacionalidades e etnias, eles carregavam, juntos a seus pertences, a esperança de um futuro melhor.
Para se emocionar, não é preciso encontrar o nome de um parente na parede de madeira que decora um dos ambientes. A restauração foi incapaz de eliminar deste edifício do século XIX os sentimentos de quem ali permaneceu até o encaminhamento a postos de trabalhos, principalmente ligados à lavoura de café. Há dor, alegria, ansiedade, medo e curiosidade em cada canto do museu.
Localizada na Mooca, a Hospedaria do Brás foi construída em local estratégico, bem ao lado das linhas das estradas de ferro Santos-Jundiaí e Central do Brasil. Inaugurada em 1887, centralizou em um só local os serviços de recebimento, acolhimento e alocação de imigrantes. Somente um dos espaços é utilizado hoje pelo Museu. No passado, havia também um depósito, serviços médicos, agência postal, telégrafo, câmbio, lavanderia, rouparia e capela.
Vários objetos, documentos e fatos históricos são expostos ao longo da visita, mas nada é mais marcante que a reconstituição do refeitório e do dormitório. Os imigrantes tinham direito a quatro refeições diárias, em um ambiente que comportava 80 mesas coletivas. Eram servidos café, açúcar, pão, carne, feijão, batata ou verdura. Esta história é contada em um cenário criado com poucas mesas, onde são projetadas fotos da época, humanizando ainda mais o espaço. A poucos passos, está o outro cenário que reproduz os dormitórios dos imigrantes. Havia dois no térreo e quatro no primeiro andar. Cada um abrigava, em média, 150 pessoas, que dormiam em beliches, camas e até esteiras.
A verdade é que a vida de quem passou por ali nunca mais foi a mesma. Migrar, explica o Museu, é “mover-se de uma região a outra; sair em busca do sonho, da prosperidade, de alternativas ou, na falta de todos eles, partir”. Eles mergulham também no indivíduo e definem o migrante como alguém que fica necessariamente partido. “Uma vida permanece em sua origem, outra se lança num novo destino, incompleta. Nesse movimento, homem e destino se constroem continuamente, reelaborando práticas, afetos e identidades”.
Os relatos disponíveis ao longo dessa visita ao passado deixam isso claro. Algumas pessoas viveram um verdadeiro pesadelo: sentiram-se aprisionadas na hospedaria ou foram deslocadas para fazendas onde viveram como escravos. Entre ilusões perdidas e almas partidas, fica, principalmente, o sentimento daqueles que semearam ali, aos pés da enorme figueira no jardim de entrada, a vida que floresceu, ainda que duas ou três gerações depois.
Assim, entre aqueles corredores, vagamos pela esperança e pelo brio de milhares de imigrantes. Ali, admirando aquele jardim, a gente se dá conta da sorte que tem. Por mais desafios e conflitos que atravessemos, não há saltos no escuro como no passado. Ao migrar para esta pátria, eles plantaram em nós a mesma esperança e o mesmo brio, tudo que precisamos para honrar nossos ancestrais e construir o tão sonhado futuro.
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Serviços:
Museu da Imigração do Estado de São Paulo – Rua Visconde de Parnaíba, 1316 – Aberto de terça a sábado, das 9h às 17h, e aos domingos das 10h às 17h. Entrada: R$10 (inteira). Gratuito aos sábados.
07/10/2017 at 6:03 pm
1887 2017 tanto tempo se passou, e a imigração continua. Alguns a busca de sonhos, mas muitos ainda simplesmente partem, sem sequer imaginar o que a vida lhes reserva. Paz no mundo!
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