É impossível imaginar as surpresas que a vida nos reserva em esquinas e cruzamentos. No pico da carreira executiva, Renata encontrou uma velha conhecida de infância: a bicicleta. Com ela, a paraense percorre vias do mundo todo e descobre, a cada pedalada, seu próprio caminho.
Não foi amor à primeira vista, embora Renata tenha sentido ao lado dela os primeiros ventos do desafio e da liberdade. Ela tinha quatro anos, quando o pai retirou as rodinhas da sua bicicleta e a acompanhou pela Rua Dom Pedro I, em Belém. “Eram idas e vindas até a esquina, muita desequilibrada, com o auxílio dos pés, até eu aprender a me apoiar cada vez e a pedalar cada vez mais. Lembro do meu pai sorrindo, sentado em frente da minha antiga casa”.
No fim de 2012, quando já morava em São Paulo e escalava rapidamente a muralha corporativa, esta redatora e estrategista criativa fez um movimento muito comum. “Depositei todas minhas fichas no trabalho e nenhuma na minha vida. O resultado foi que a saúde foi para o brejo, junto com a chegada de uns 10 quilos a mais”. Hormônios alterados, gordura acima da média, resistência baixa e cada vez mais roupas mais apertadas aumentavam o prejuízo.
Ao analisar as alternativas para reverter o quadro, Renata resolveu comprar a bicicleta do vizinho. “Não pensei duas vezes. A Mag, de MAGrela, foi a minha primeira bicicleta, pois fui eu quem comprei. Era uma Blitz de uns 20km, urbana, pesadona, mas superconfortável, um landau das bikes”.
Embora a realidade fosse bem diferente da Belém da sua infância, ela estava convicta da vida sem rodinhas na selva paulistana. “Enquanto eu desbravava uma São Paulo ainda sem ciclovias, eu tornei minha alimentação mais saudável e introduzi o Pilates e o exercício funcional. Ia cada vez mais longe com a Mag, encontrava novos caminhos, descobria ruas e cantinhos lindos, só de bicicleta ou caminhando é possível”.
A bicicleta passou a acumular cada vez mais papéis na vida de Renata: aquela brincadeira de criança virou o remédio para a saúde, um meio de locomoção e, finalmente, uma companheira de aventuras. Juntas elas atravessaram cidades e regiões em diferentes partes do globo, como Bangkok (Tailândia), Georgetown (Malásia), Route du Lac (Suíça), Flórida (EUA), Berlim (Alemanha), Copenhagen (Dinamarca), Stockholm (Suécia), Puglia (Itália) e Sevilha (Espanha). “Hoje eu desbravo Portugal, meu novo país de moradia e de escolha. Por aqui, pedalo em Lisboa e já fiz os 80km da Ecovia do Dão, mais Coimbra, Viseu, Aveiro e Lagos”.
Com a Mag e a Felícia, uma bike desmontável, Renata ganhou, principalmente, qualidade de vida. “Dei muito trabalho a minha mãe quando era criança, pois tinha baixa resistência. De repente, com bicicleta, minha imunidade ficou altíssima. A redução do estresse também foi significativa. Acredito que, se eu não tivesse iniciado esse estilo de vida, não teria aguentado a forte pressão no mundo corporativo, em um alto cargo em São Paulo, sem nenhuma ajuda de medicamento”. Ela também emagreceu e torneou o corpo, mas a principal mudança foi de mindset. “Pedalar me apresentou um contexto social e de vida mais simples. A sensação de liberdade quando se está pedalando é algo indescritível. É algo que você passa a querer para todos os aspectos da sua vida”.
Mais leve e democrática, essa nova perspectiva demandou uma reforma na vida. “Imagine que muito pode ser carregado em um alforje (bolsas especiais para bicicletas) de bicicleta, mas o que você coloca dentro é somente o que precisa para o trajeto. Você sabe que, se colocar muito peso, o trajeto vai ficar mais moroso e cansativo. A disciplina passa a fazer parte do seu dia a dia, assim como o planejamento e a animação. Então, imagine que a vida é o alforje. Você tem que deixar com você somente o necessário. Tudo que pode prejudicar seu trajeto, é aconselhável não carregar. Roupas desconfortáveis, bolsas, compras sem utilidade, conversas e pessoas com pouca afinidade, compras de mercado que precisariam ser estocadas ou qualquer moeda que pouco se aproximavam da minha busca por leveza e praticidade de vida foram ficando pelo caminho”.
Rejuvenescida, Renata define o novo caminho como pura poesia em movimento. “Pedalar é ter liberdade poética nas vias da vida”.
Deixe um comentário