Há quem diga que lhe falta vaidade, pois uma maquiagem aqui, um retoque ali, lhe rejuvenesceria. Há quem a julgue desinteressante só porque não se rende a títulos e modismos.  Tem, ainda, quem questione sua ambição, ou a falta de, já que não se dá ao trabalho de abarrotar a agenda de compromissos e viver na correria. Ela é assim: não dita regras, não ostenta, não quer impressionar nem convencer ninguém de nada. Não cria inimizades, tampouco desafetos; não se ofende com comparações nem cria caso por isso. Ela é o que é e ponto. 

É guiada por valores sólidos e se alimenta de costumes até antigos. Não sente vergonha da sua história: enaltece seus heróis e celebra cada passo do caminho. Ela não se encanta por prédios envidraçados, de arquitetura arrojada, mas pelos casarões do século XVIII, que resgatam em cômodos, móveis, quadros e outros objetos de decoração, hoje históricos, suas raízes. Ela não se deixa seduzir pelos pecados capitais, porque valoriza sobretudo a simplicidade advinda do trabalho digno, da boa educação, da cultura acessível, da atenção à saúde universal e gratuita e do direito de ir e vir em segurança e em paz.

Pode até parecer apática, mas promove o silêncio da mesma forma que pulsa com a batida do tambor. Mostra que modéstia e prudência também combina com ousadia e que a vida pacata nada tem de solitária, pois acredita em colaboração, em igualdade, em compartilhamento.

Tira proveito de todas as facilidades e benefícios da Revolução Digital, mas faz questão de manter na sociedade contemporânea o contato humano. Sabe aquela coisa de olhar para a pessoa que está do outro lado da mesa? De andar na rua olhando para frente, para os lados, para baixo ou para o céu? De curtir a viagem de ônibus ou de carro simplesmente porque o agora é real e mais interessante que a tela do celular?

É até difícil acreditar, mas ela também guarda o domingo. Este é o dia de se dedicar à família ou a si, de fazer exercícios, de passear com o cachorro, de se esticar na areia ou no gramado, de sentir o sol ou o vento no rosto, de contemplar a vida e de louvar o tempo – de preferência, com um bom chimarrão.

Assim é Montevidéu, uma cidade que te convida a desacelerar, a abrir a mente, a questionar hábitos e comportamentos, a refletir e a mudar a vida – somente se estiver disposto a isso, tá?