Ou só de uma menina, que sentava no fundo da sala, enquanto ouvia o professor de cabelos tão brancos quanto a neve falar sobre planícies, pampas, rochas, picos, formações vulcânicas e montanhas?
Foi ali que comecei a descobrir o mundo. Foi ele, Seu Pedro, quem me apresentou a Cordilheira dos Andes, essa gigante que se esparrama da Venezuela à Argentina e atinge uma altitude de 4 mil metros. Parecia até que ele estava ali, sentado ao meu lado, se esticando tanto quanto eu na poltrona do avião, completamente hipnotizado por aqueles declives e aclives suntuosos, ora encobertos por nuvens, ora por neve, ora por lágrimas.
A emoção foi tanta que cutuquei o desconhecido ao lado e pedi, só com gestos, sem palavras, que registrasse a cena da sua posição privilegiada. Não era para ostentar, não; era a mais pura necessidade de ter uma evidência, ainda que modesta, do que o que os meus olhos clicavam, meu coração amplificava e o meu cérebro tentava entender.
Talvez, no meu íntimo, eu já soubesse que me faltariam palavras para descrever o que via. Por isso, dei-me de presente só sentir. Sou capaz de jurar que alguns daqueles paredões tinham formas majestosas de animais e humanos sagrados. Eu deixei de duvidar do poder da natureza há um tempo.
Lembrei-me até de uma história que ouvi dia desses de que 58% da população da Islândia acredita em elfos. A justificativa, segundo os especialistas, vai muito além do folclore. É um desejo genuíno dos filhos daquela terra de manter vivos o encanto e o espírito daquele lugar.Talvez isso explique os rabiscos de figuras místicas que vi tão de longe.
O que eu sei de verdade é que, inundada pela emoção, me senti saudada e privilegiada. Entre tantas explicações para essa experiência não resta dúvida da manifestação alegre, ingênua e espontânea da criança curiosa que graciosamente ainda reside em mim.
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