Dizem que a gente tem que aprender a silenciar em qualquer lugar – até no trânsito ou no escritório, nem que seja por um minuto apenas. Na praia, porém, é muito mais gostoso, principalmente depois de uma caminhada. Parece que uma parte da carga já foi descarregada e tudo fica mais fácil – respirar, escutar, se entregar.

Hoje, a certa altura do caminho, resolvi aproveitar o banco de areia formado pela maré para meditar por 3 minutos (um desafio e tanto para mim).

Tirei meu tênis e deixei meus pés serem engolidos pela areia fofa e macia. Cuidei para a coluna ficar ereta, balancei de um lado para o outro para me acomodar e prestei atenção na respiração. Senti a diferença de temperatura do ar que entrava e saía; senti o sol queimar minha pele; ouvi a onda que quebrava longe e ecoava como um trovão e também a marola, que deixava pela areia borbulhantes espumas brancas.

Senti paz, plenitude, presença. Real. Um vira-lata se aproveitou da minha sombra para colocar o ronco em dia. Queria poder dizer que encontrei uma companhia que não se incomoda com o silêncio – mas não.

Assim que me levantei e o corpo dele foi atingido pelos raios de sol, sua expressão revelou que romance é uma via de mão dupla.