Ilustração de Francesca Ganassi

Ela tem dia para chegar

mas também gosta de surpreender

aparecendo sem avisar

tentando mesmo me enlouquecer

Me faz entrar em contato

com um amor tão profundo

que seria um tanto insensato

não reconhecer algo tão fecundo

 

Talvez a dor que ela me causa

seja mais pela sua onipresença

ou seria pela impotência?

 

É tudo tão confuso e tão dolorido

que só posso agradecer pelo tempo vivido

pode parecer um tanto descabido

mas ainda vejo os sorrisos

rio das tiradas sem sentido

e choro escondido

muitas vezes até rindo

pelas histórias tão vivas

que ainda carrego comigo

 

 

Ah, saudade, sua bandida

quando você chega assim

sem aviso nem convite

meu peito não aguenta

e chia uma melodia triste

 

 

Tento refletir sobre o que isso significa

e coleciono perguntas

tão absurdas e nada absolutas

como deixar de sentir?

como substituir?

como insurgir?

parece até que vou implodir

ou explodir

em lágrimas e dor

em lágrimas e raiva

em lágrimas e amor

 

 

Quando me pergunto se lá tem cabimento

guardar assim tanto sentimento

viver separado e em sofrimento

me dou conta de que estou viva

e não sei se é coragem

protagonismo ou maluquice

mas perco o medo da pieguice

decreto o fim da escuridão

reconheço a força e a beleza da conexão

 

 

De uma outra perspectiva

ainda que me sinta perdida

decido fazer desse ponto e vírgula

nada mais do que uma breve pausa

na nossa narrativa

infinda.

 

 

Até sempre!

(In memorian de Conchita M. Gori, Fernanda C. C. Mello e Rafael Ciccone Pinto)