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Foto: Pixabay/truthseeker08

Por Thich Nhat Hanh*

“Na música, existem três momentos de “descanso”, de não som. Se tais espaços não existissem, tudo seria um caos. A música, sem momentos de silêncio, seria caótica e opressora. Quando nos sentamos em silêncio com um amigo, sem dizer nada, trata-se e um momento tão precioso quanto as notas de silêncio necessárias à música. O silêncio compartilhado entre amigos pode ser melhor que a conversa.

Trinh Cong Son foi um querido cantor e compositor nascido em 1939. Ele era chamado de “Bob Dylan do Vietnã”. Dizem que em 2001, ao morrer, milhares de pessoas se reuniram para um concerto espontâneo no seu funeral, e tal concerto teria sido a segunda maior mobilização de pessoas da história do país, superado apenas pela multidão presente na procissão funerária de Ho Chi Minh.

Trihn Cong Son estava cansado de ruídos, mesmo do ruído de elogios e aplausos. Ele adorava os momentos de silêncio, e escreveu: “Existe alguns amigos cuja presença é como as notas silenciosas de uma música. Eles nos passam calma, liberdade, alegria. Não há necessidade de conversas tolas e sem sentido. Somos completamente nós mesmos e nos sentimos totalmente confortáveis.” Trihn Cong Son adorava os momentos em que se sentava com um amigo sem ter que fazer nada, sendo nutrido unicamente pela amizade. Todos precisam de amizades assim.  (…)

A clássica “Lute Song”, canção tradicional vietnamita, conta a história de uma mulher que está tocando alaúde, mas que de repente para. A música diz: “Thu thoi vo thanh thang huu thanh.” Thu thoi significa “agora mesmo”. Vo Thanh significa “ausência de som”. Thang significa “para triunfar sobre”, e huu thanh significa “a presença de som”. A música diz que, quando a alaudista para, “a ausência de som vence a presença de sim” ou “o som abre passagem ao silêncio”. Esse espaço entre notas é muito, muito poderoso, muito significativo. E mais eloquente do que qualquer outro som. A ausência de som pode ser mais prazerosa, mais profunda do que o som. Trihn Cong Son sentia a mesma coisa.

Um dos meus alunos me contou uma história similar sobre o saxofonista norte-americano David Sanborn. Em uma entrevista, referindo-se ao seu amigo saxofonista Hank Crawford e seu renomado colega compositor e trompetista Miles Davis, Sanbord disse: “[Hank] entendei que o espaço que deixamos é tão importante quanto o som que fazemos. (…) E, mais tarde, quando ouvi Miles Davis, fui atraído por sua (…) simplicidade e seu uso do espaço – não que fosse necessário – para preencher todos aqueles espaços.”

 

 

*Trecho extraído de Silêncio – O Poder da Quietude em um mundo barulhento