Ele chegou de mansinho

sem aviso prévio

sem um assobio

sem burburinho

 

Eu até estava à sua espera

mas não desse jeito

cheio de confeito

como a primavera 

 

Educadamente

ele adentra o ambiente

e acalma meu coração

sem nem precisar de uma canção  

 

Gentilmente 

ele tranquiliza minha mente 

e abranda minha respiração 

afastando qualquer hesitação 

 

É como abraçar o desconhecido 

e resgatar os sonhos perdidos

só para fazer valer a pena

cada dia vivido

 

Ainda que a mudança provoque medo

sou lembrada da minha finitude

preciso sanar essa incompletude 

que carrego desde cedo

 

Para não viver mais aprisionada 

é preciso desapego

e escolher o doce desassossego 

de uma longa jornada 

 

O caminho é espinhoso

assim como as expectativas 

que entre um passo e outro 

ainda me fazem companhia 

 

Durmo com a porta destrancada

porque sei que não há mais monotonia

lá vem um novo dia 

com toda sua maestria 

 

Com o coração por um fio 

no silêncio tardio 

eu me entrego enfim à beleza 

que existe no vazio