
Era uma tarde de sol com poucas nuvens pintadas no céu azul. Sentia-me abraçada por uma manta leve, que formava em meu corpo uma capa protetora contra o vento hostil, típico dessa época do ano. Repousava sobre o meu colo um livro, cuja história parecia se entrelaçar ao gracioso movimento da natureza ao meu redor. “Em momentos como estes”, disse o protagonista, “vemos a que deplorável espécie de brutos pertencemos.”
Fechei os olhos após ler essa frase e deixei que as palavras encontrassem morada em mim. Pensei na intolerância, na vaidade, no egoísmo, no ódio, na guerra. Pensei no confinamento de um ano. Pensei nessa grande colônia humana. Bruta.
Abri os olhos contrariada. À minha frente, duas árvores, também confinadas, mas livres: os frutos coloridos em seus braços; os pássaros e insetos acolhidos por galhos; as folhas coreografadas pelo vento; as raízes invisíveis e estáveis, criando espaço, sendo casa.
Apertei o livro contra o peito e soltei o ar que prendi sem notar. Deixei-me preencher pelo vento que embaralhava meu cabelo, pelo sol que tocava meu rosto, pelo silêncio fértil que desconfinava lentamente minha alma bruta.
08/04/2021 at 3:13 pm
Lindo!
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