O Smithsonian Institution resolveu recolher objetos que expressem às gerações futuras dos Estados Unidos o que foi a pandemia e como o país sobreviveu a esse marco histórico da humanidade. Ampolas das primeiras vacinas, materiais de proteção dos profissionais da linha de frente, fotos de cidades desertas, obras de arte, máscaras e mais máscaras.

Ao ler essa notícia, fiquei pensando como fugir do óbvio e expressar emoções, mudanças de comportamento ou pequenos retratos da vida cotidiana que se tornam memórias eternas. Afinal, máscaras, telas de computador e fones de ouvido são somente uma parte desse isolamento.

Faço esforço para guardar em algum cantinho de mim as músicas que meu pai assobia ou cantarola enquanto toma banho; o sinal da cruz que minha vó faz para disfarçar um cochilo fora de hora; as experiências gastronômicas com a minha mãe; as palhaçadas do meu irmão; os felinos e caninos das caminhadas; as manhãs de cultura francesa “avec Angelina et Licia”; os passarinhos que entram na cozinha, literalmente, caminhando; flores ou vegetais secos; letras ou partituras de músicas que roubam meu coração e me levam longe; os contos compartilhados com a Ana e as fotos sonhadas com a Anahi; a reza diária com a Ju que renova a esperança diante de cada novo dia; os amigos e familiares que se fazem tão presentes em ligações e mensagens que tornam a distância um mero detalhe.

Talvez minha contribuição a essa iniciativa do museu fosse um objeto completamente artesanal e analógico, como um álbum de recordações, daqueles antigos, cheios de fotos, colagens e escritos.

Conseguir guardar memórias boas, dentre tanta dor e desgraça, talvez seja a melhor e maior revolução das nossas vidas ordinárias em anos que valem por décadas. E você? O que você guardaria?