Foto: @tatirlima

A jovem sentada à beira do rio tinha os olhos no balanço das águas ou, pensei, nas batidas da música que escapava pelos discretos fones. Seu cabelo liso escondia o rosto lavado por lágrimas, derramadas por um passado que teimava em se fazer presente. Seu olhar não conseguia disfarçar a tristeza que lhe acometia e que por tantos passava despercebida.

A poucos metros dali, uma mulher também observava o rio, como se ele fosse uma tela, a passar um desses filmes dos quais não se consegue desligar. Ela mal respirava, mal piscava os olhos. Nem parecia se importar com o atrevimento do vento, que

implicava com seus cachos. Permanecia enfeitiçada por um futuro presente que lhe tatuava as têmporas enquanto lhe revelava das profundezas do rio um segredo que ninguém mais podia acessar.

Havia ainda uma senhora, com um leve sorriso no rosto, a observar tudo, a observar todos, a sentir tudo, a sentir todos. De um coque descompromissado escapavam rebeldes cabelos brancos, que a entretinham tanto quanto o aceno das crianças passeando de barco, o agudo das gaivotas a cruzar o céu e a determinação do cachorro em espiar a comida que escorria entre os dedos do seu tutor. A senhora não carregava nada consigo, nem a tão característica pressa desses tempos, nem as preocupações exageradas de outrora. Dispensava as notificações do celular, fugia de selfies e preferia os retratos tirados pela imaginação. Só lhe interessava se deixar dourar pelo sol, beijar pela brisa, se encantar pela brevidade gratuita da vida.

Da mesma forma corria o rio. Cumpria à risca o seu destino, contornando os obstáculos, contemplando o entorno, descartando as tendências, relacionando-se com os mais diversos meios e seres, confiando no seu propósito de um dia lançar além os tesouros e as histórias de um curso inteiro. Neste encontro derradeiro, sua alma será, enfim, lavada pela água salgada da eternidade, pouco antes de alcançar o descanso naquele céu também chamado de oceano.