Antes da nova exposição do MIS abrir as portas, mergulhei em Vira-Lata de Raça, a autobiografia de Ney Matogrosso.
Selecionei cinco memórias que ele compartilha ao longo do livro como um convite para explorar essa edição primorosa da Tordesilhas, organizada por Ramon Nunes Mello a partir de longas conversas com o artista.
Cega e esquecida. Esse também foi o destino de outra mulher extraordinária, nascida no século XVIII, dessa vez, em Setúbal, Portugal. Ela foi a terceira dos cinco filhos de um professor de música, que trocou as aulas no interior por um emprego de copista de orquestra na capital. Apostou que lá ele poderia dar mais condições à família extensa – e não estava errado.
Eu sabia muito pouco sobre Alaíde Costa, mas me emocionei assim que subiu ao palco do Sesc Pompeia. Ela, que começou a cantar ainda menina, tomou gosto pela coisa ao se inscrever em concursos de música. Encontrou-se neste caminho e se entregou a ele.
Lulu Santos, em sua participação em Vai Na Fé, contou que, durante a pandemia, a linha de frente de um hospital do Rio cantou diariamente uma música sua. “Como uma onda” tornou-se, então, uma canção de redenção.
O “indo e vindo infinito” pode nos trazer paz, mas também pode nos sufocar. Há momentos de marola, há momentos em que somos engolidos por ondas tão gigantes quanto as de Nazaré. Somos lançados ao fundo do mar, sentimos o sal rasgar a garganta, emergimos para tomar goles de ar.
Saímos dessa experiência sabendo que “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Lembrei-me da história de um geólogo que, após presenciar um enorme furacão, disse a um jornalista que não via a hora de ir à praia. Em vez de destruição, ele esperava encontrar “uma nova praia.” Junto com ela, apesar de todo sofrimento, a promessa de uma nova vida.
“Tudo passa, tudo sempre passará”. Do jeitinho que o Lulu canta.
Foto: @imoreirasalles, que torna disponível na internet seu acervo de manuscritos e partituras de Chiquinha.
“Eu não entendo a vida sem harmonia”, informou ao marido Francisca Edwiges Neves Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga, autora da primeira marchinha de carnaval e a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Ela se separou daquele homem com quem foi obrigada a se casar aos 16 anos de idade. Não foi fácil. Teve que deixar os filhos e foi considerada morta pelos pais. Para (sobre)viver, dedicou-se à música que transbordou cedo do seu coração – aos 11, compôs sua primeira canção. Imagine quantas críticas ela ouviu e ainda hoje ouviria.
“O que aconteceu com Amelia Earhart que segura as estrelas lá no céu?”, perguntou o New Radicals em uma música de 1998, quando o desaparecimento da aviadora se mantinha um mistério.
Ela foi declarada morta em um 5 de janeiro, há 83 anos, após quase 2 anos de buscas. Nascida em 1897 nos EUA, ela decidiu aos 23 que o seu destino era voar. Tornou-se parte de uma geração de mulheres disposta a promover mudanças – no caso dela, não só estéticas, com seus cabelos curtos e calças compridas (foto 1), como também na ambição e nas escolhas.
Mal entrei na casa da artista e um agudo ecoou no ambiente. Não era uma nota musical, mas um aviso de que (mais) uma parte de Amália Rodrigues se mantém viva e atende pelo nome de Chico.
A rainha do fado era fã de papagaios. Chico conviveu com ela entre 1991 e 1999, ano de sua morte. Nativa da África Subsaariana, essa espécie cinzenta, quase prata, é considerada a mais inteligente do mundo. Quando abre as asas, revela uma cauda cor de sangue.
Logo nos primeiros minutos de Toscana, uma produção dinamarquesa e italiana da Netflix, uma música me chamou a atenção. A melodia parecia tão… familiar. Espera, Roberto e Erasmo… em italiano?
Pois sim, “L’Appuntamento” é a versão de “Sentado à beira do caminho”, na voz de Ornella Vanoni. A canção foi gravada também por outros artistas. No canal de Andrea Bocelli no YouTube, há um vídeo de um show em Las Vegas, com um comentário que me emocionou: