Eu acredito em um universo de possibilidades. Acredito, por exemplo, que, quando eu passar dessa para melhor (e, acreditem, tenho trabalhado para isso), eu vou assistir a um pocket do Sinatra, da Ella, do Pavarotti e do Freddie Mercury. Em algum lugar, de alguma forma, simplesmente isso vai acontecer porque algumas coisas são do jeito que são e acontecem porque têm que acontecer. Entende?
Elton John, uma das principais atrações desta noite no Rock in Rio, foi o primeiro show internacional da minha vida. Há mais de 20 anos, amigos. Eu era tão inocente. Não tinha ganho a cidade grande, meu pai me esperava (de pijama!) na esquina, não havia sido hipnotizada por Tiny Dancer e desconhecia (pasmem!) Rocket Man. Gostava de The One, My Song e Don’t Let The Sun Go Down on Me. Minha veia era mais pop, mais limitada, e eu estava mais nervosa pelo temporal que se formava do que pelo que vinha pela frente. Afinal, convenhamos, como eu poderia imaginar?
Sir Elton tinha acabado de lançar Made in England, não havia ainda cantado no funeral da Lady Di, oficializado seu matrimônio com David Furnish nem ressuscitado Robert Downey Junior com I Want Love. Não havia gravado Sorry Seems to Be The Hardest Word, com Ray Charles, no melhor álbum de duetos de todos os tempos, e exigido que todos os suspiros fossem mantidos na versão final. Afinal, eles não eram defeitos; eram a mais sincera expressão dos dois artistas. Não é lindo isso? Abraçar as imperfeições assim?
Nada disso havia acontecido em 1995. Para aquele show no Estádio do Ibirapuera, ele escalou para a abertura do seu único show em São Paulo uma desconhecida Sheryl Crow, mais ruiva, de cabelos encaracolados e dona de um ou dois hits somente. Só que ele já era Elton John.
Hoje, na Cidade do Rock, ele repetiu o mesmo feito de vinte anos atrás. O repertório é um pouco diferente, claro, mas o efeito na plateia, acreditem, é o mesmo. A partir do momento em que ele se senta naquele suntuoso piano, o barulho da multidão se dissipa e se unifica (até com aqueles que assistem no conforto de suas casas).
Somos todos transportados para um outro lugar, em uma viagem coletiva, capaz de abrigar as diferentes almas, mas de uma forma única. É como se, do artista a plateia, todo mundo ficasse mais introvertido — alheio à bagunça, mais sensível, mais meticuloso e também mais autêntico, porque aquela experiência, ao final, é sua. Ficará guardada na sua memória e será compartilhada com quem você ama de uma forma que ninguém mais pode fazê-lo.
Eu senti isso também com Paul McCartney. Foi por meio de outros artistas que eu fui me apaixonar por Yesterday, sem nem imaginar a história curiosa que havia por trás. Demorou anos para que eu me juntasse à minha mãe na Beatlemania, para que eu descobrisse o Wings e chegasse até o Early Days do seu NEW.
No show do ano passado, a música que eu menos gostava, aquela que eu nem deixava tocar no ipod, foi a que mais me conquistou. Na ponta do palco, acompanhado por um violão e uma simples animação no telão, Paul transformou Blackbird não em um acústico mas em um momento para introvertidos.
O Rock in Rio nem chegou ao fim, mas confirma que Friedrich Nietzsche tinha razão: sem música a vida seria mesmo um erro.
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