Com esse nome, bem poderia ser uma banda. Com apenas duas notas, regidas pela maestrina Daisy Bates, nove jovens apresentaram um repertório que ecoou pelos Estados Unidos e ficou cravado na história da humanidade. A melodia ressoava coragem e serviu como trilha “no caminho ensolarado da justiça social”.
Em 1957, a ativista e publisher do jornal Arkansas State Press colocou em uma mesma sala Melba Pattillo Beals, Minnijean Brown, Terrance Roberts, Elizabeth Eckford, Ernest Green, Thelma Mothershed Wair, Carlotta Walls LaNier, Jefferson Thomas e Gloria Cecilia Ray. Ali nascia o Little Rock Nine, os primeiros negros a pisar em uma escola no Arkansas.
Com idades diferentes, aqueles jovens foram escolhidos a dedo por Daisy por terem duas características: determinação e resiliência. Foram semanas de treinamento para prepará-los para os abusos e hostilidade que enfrentariam. E, infelizmente, ela não estava errada.
Eles não eram bem-vindos na Central High School, em Little Rock, no Arkansas. Estudantes e pais não queriam a integração. Até o Governador Orval Faubus se meteu e escalou a Guarda Nacional para impedir a entrada do grupo, sob o pretexto de que a medida se fazia válida pela própria segurança deles. Por um desencontro, Elizabeth Eckford caminhou sozinha. Sua imagem, de cabeça erguida enquanto era hostilizada, correu o noticiário. As câmeras só não mostraram a agressão física que ela também sofreu, além das lágrimas que escorreram a uma quadra dali.
O segundo round aconteceu quase vinte dias depois, após intervenção do presidente dos Estados Unidos e de um juiz. Os Little Rock Nine foram escoltados pela polícia, que recuou novamente ao se deparar com mais de mil manifestantes brancos.
Até que, em 25 de Setembro de 1957, com apoio das Forças Armadas, o primeiro dia de aula finalmente aconteceu. Foi uma importante vitória, mas a batalha estava só começando. A segregação não havia terminado. Nem as agressões. O grupo fora excluído das atividades extracurriculares, jogaram ácido no rosto de Melba, Gloria foi arremessada das escadas e Minnijean foi expulsa da escola por tentar se defender de agressões. A coragem dos estudantes pulsava também na família, que sofreu diversas retaliações. A mãe de Gloria, por exemplo, perdeu o emprego ao se negar a tirar a filha da escola.
No final do ano letivo, em 1958, a Central High foi fechada por decisão do Governador, com apoio majoritário da comunidade. Alguns Little Rock Nine deslocaram-se para outros estados, outros terminaram os estudos em casa. Ernest Green foi o único a completar os estudos naquela instituição. Martin Luther King estava lá. Aplaudindo Green.
Daisy Bates não errou no recrutamento. Os Little Rock Nine nunca se renderam – pelo contrário, seguiram carreira no Exército, no Governo e instituições privadas. Foram homenageados por Bill Clinton e convidados de honra para a posse de Barack Obama em 2009.
O legado deixado por Melba Pattillo Beals, Minnijean Brown, Terrance Roberts, Elizabeth Eckford, Ernest Green, Thelma Mothershed Wair, Carlotta Walls LaNier, Jefferson Thomas e Gloria Cecilia Ray não encerra a luta pela justiça social. “Só ficaremos satisfeitos quando a justiça rolar como água e a retidão correr como um rio poderoso”. Em todo o planeta.
22/01/2016 at 1:57 pm
Nossa, até arrepiei! Ainda bem quem, em qualquer época, há sempre gente corajosa o suficiente para lutar pelo que é certo!
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