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“Setembro já se acabara, com seu rude calor e sua aflita miséria…
… e Outubro chegou, com São Francisco e sua procissão sem fim, composta quase toda de retirantes, que arrastavam as pernas descarnadas, os ventres imensos, os farrapos imundos, atrás do pálio rico do bispo, e da longa teoria de frades a entoarem em belas vozes a canção em louvor do santo:

Cheio de amor, cheio de amor!

As chagas trazes do Redentor!”

Publicado em Fortaleza em 1930, O Quinze, de Rachel de Queiroz, parece mais atual do que nunca – não só no sertão nordestino mas em tantas outras regiões avarentas Brasil e mundo afora.

Como a Repertório* surgiu para dar boas notícias, frente a uma inundação de desastres e polêmicas, nós selecionamos histórias de encher o coração de esperança em um futuro melhor. Você nem precisa embarcar num navio rumo a uma promessa, como fez Chico Bento e Cordulina em O Quinze.

Você sabia, por exemplo, que o número de pessoas vivendo em extrema pobreza ($1,90 por pessoa por dia) caiu pela metade em duas décadas? O número de crianças morrendo também!

O balanço foi divulgado na quinzena passada pela ONU e passou tão despercebida que o The New York Times chamou essa de A Melhor Notícia que Você Não Sabe.

É claro que tem muita coisa ainda a se fazer. Pra começar, há um ingrediente fundamental nessa receita: Empatia. O chef da vez foi um garotinho de apenas seis anos que ofereceu seus brinquedos, sua família, sua casa e seu amor ao pequeno sírio resgatado dos escombros em Aleppo. A “oferta” foi feita em uma carta enviada ao Presidente Obama, que o descreveu em seu Facebook como uma criança que não aprendeu a ser cínica, desconfiada ou a ter medo de outras pessoas em razão da sua origem, da sua aparência ou do que elas pregam.

Vamos deixar de lado a indireta ao Trump; será que todos nós não padecemos secretamente desse(s) mal(es), quando somos abordados por desconhecidos na rua? A pessoa que pede ajuda, às vezes, só precisa mesmo de…ajuda. O Doce Viagem já até relatou isso.

Empatia na vida profissional e pessoal

Durante o curso O Protagonista e com os nossos clientes de ghostwriting , nós fazemos constantemente o exercício de pensar no outro. Embora expresse a sua visão ou versão de uma história, um livro, um blog, um artigo no LinkedIn ou uma entrevista de emprego deve ser sempre pensada sob a perspectiva do outro, do leitor, do ouvinte.

Mais do que obter sucesso, há muitas lições nisso:
– A psicanalista Diana Corso afirma, por exemplo, que ao acolher o outro podemos curar nossas próprias feridas. “Vínculos capazes dessa delicadeza são raros e preciosos. Só podem ser oferecidos por aqueles que não têm medo do contágio, pois é preciso baixar as defesas para oferecer uma verdadeira empatia.”

– O Netflix traz o documentário Living On One Dollar, com a experiência vivida por quatro jovens americanos em uma zona rural da Guatemala. Eles se desafiaram a viver como a comunidade local: no mesmo ambiente, nas mesmas condições, contando dinheiro para comprar banana. Sentiram, na pele, que a teoria é bem diferente da prática. (Ah, detalhe: o projeto começou com vídeos no Youtube e fez tanto sucesso, que virou negócio. Essa turma infiltrou-se recentemente entre os refugiados).

– De acordo com a Harvard Business Review, ter empatia não significa somente escutar o outro, mas cooperar e ajudar a construir sua autoestima, por exemplo. A revista lista 6 níveis ou tipos de ouvintes. Pode ser um bom começo. Que tal?

– Essa jornada de entender o outro pode até ser divertida. Martin, por exemplo, é carteiro e escreve correspondência para agradar a labrador que adora recolher as encomendas do dono. O esforço de um (ou dos dois?) deixa o dia de ambos mais feliz. 🙂

Verdade seja dita

Nós acreditamos que o brasileiro tem a empatia no DNA. Que outro povo bota água no feijão para acolher mais gente?

O problema é que, na correria da vida, a gente se esquece de que gentileza gera gentileza. E, no fundo, é tão mais fácil do que se imagina. “Por favor, com licença, desculpe-me e obrigado são quatro fórmulas mágicas que devem ser multiplicadas. Todas implicam reconhecer que há algo ou alguém além de mim”, escreveu Leandro Karnal na (sua) melhor coluna já publicada no Estadão.

*A Repertório é uma newsletter quinzenal distribuída gratuitamente pela Contrate 1 Ghostwriter. Seu conteúdo foi adaptado para o Doce Viagem. Envie um e-mail para contato@c1g.co, que a gente faz chegar até você um bocado de inspiração.