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Neste Dia Internacional da Mulher, celebro o poder de escolha de meninas e mulheres com uma amostra do livro Menina Pra Casar. Espero que gostem!


Capítulo 1

Mal desceu da perua escolar, Maria correu para a enfermaria. Entrou aos berros no departamento, localizado bem ao lado da biblioteca:

— Doutor André! Doutor André! O senhor PRECISA me ajudar!!!!

Dona Vicentina, que não estava à vista, bloqueou sua passagem.

— Quem você pensa que é para entrar aqui dessa forma? – disse pausadamente a enfermeira, como se estivesse saboreando cada sílaba que saía de sua boca. 

Ela era diferente de todas as enfermeiras que Maria já havia conhecido. Não era muito alta, mas parecia mais forte que muitos homens. Não sorria e tinha um tom de voz, nem baixo nem alto, que causava arrepios. Seus braços eram largos e curtos, enquanto seus passos eram espaçosos e pesados a ponto de ecoar pelos corredores da escola. Por isso, chamavam-na de T-Rex, o tiranossauro mais poderoso do cinema. Desde que fora contratada, ninguém mais ficava doente. Só que Maria não tinha alternativa.

Durante muito tempo, ela ignorou os sinais. Tentou não se preocupar, mas os efeitos em sua vida não podiam mais ser ignorados. Havia chegado a hora de enfrentar aquela doença misteriosa. Se o preço a pagar fosse domar o T-Rex, ela correria esse risco. Afinal, só o Doutor André poderia socorrê-la.

— Deixe-a entrar, Vicentina. Não vê que a pobre está aflita? – gritou o médico, após longos cinco segundos de silêncio e de troca de olhares entre a ameaçadora enfermeira e a garotinha.

Maria não esperou a reação de Dona Vicentina. Em um movimento rápido, ela driblou a T-Rex, correu para o consultório e fechou a porta, não sem antes enviar um olhar petulante de vitória para a enfermeira que queimava de raiva.

— Sente-se, Maria. Respire fundo e me conte: o que você está sentindo?

Dr. André era o oposto de Dona Vicentina. Parecia até aquele moço que lia as notícias na TV: tinha uma faixa de cabelos brancos na franja e estava sempre arrumado, com a camisa e a gravata cobertas por aquele jaleco branco cheio de desenhos. Falava pausadamente e sempre tinha uma balinha escondida em uma de suas gavetas. Dizia que esse era “o nosso segredinho”.

— Doutor, eu tenho uma doença grave.

Ele pareceu tomar um susto com a revelação da garotinha.

— Como assim uma doença grave, Maria? Não há nada preocupante no seu prontuário, nenhuma notificação dos seus pais…

— É porque eles mantêm segredo. Eles não querem que eu saiba, não querem que ninguém saiba. Só que descobri! E sei que não é normal o que tenho!

O médico levantou-se da cadeira e, enquanto contornava a longa mesa envernizada, disse:

— Maria, você está muito alterada! Tome um pouco de água e me deixe examiná-la.

Entre soluços, a garotinha esvaziou o copo de plástico e se dirigiu à maca. Tomou um susto quando Dona Vicentina abriu abruptamente a porta e fixou os olhos nela.

— Está tudo bem aqui, Doutor? Essa menina não está incomodando? Eles só pensam em matar aula hoje em dia.

Doutor André nem chegou a olhar para ela.

— Está tudo bem, Vicentina, obrigado. Avise-me, por favor, se houver alguma mensagem dos pais de Maria e avise a professora dela sobre o atraso.

Dona Vicentina não gostou da resposta. Resmungou algo e bateu a porta.

— Vamos lá, Maria. Vamos descobrir o que é que você tem. – disse o médico – Comece dizendo AAAA para mim.

O exame durou alguns minutos: ele olhou a garganta e os ouvidos; tirou temperatura; apertou seu pescoço; espiou dentro dos seus olhos; escutou seu coração e também suas costas. Ao final, pediu que subisse na balança.

— Aparentemente, não há nada de errado com você. O que é que você está sentindo mesmo?

Sem olhar para o especialista, Maria começou:

— Eu…eu…eu sou…eu sou menina pra casar.

O silêncio tomou conta do consultório. Doutor André demorou um pouco para reagir, confirmando na cabeça da garotinha de seis anos seu triste diagnóstico. “Nem ele esperava que uma menina tão jovem e saudável estivesse com os dias contados”, pensou. O gelo foi quebrado pelo médico.

— O que é que você disse? Acho que não entendi bem, Maria. O que você está sentindo?

— Sou menina pra casar, doutor. – dessa vez em alto e bom som, porque já estava cansada de sofrer calada – Eu sei que é sério! Não me esconda nada! Eu não aguento mais viver assim! – bradou, escondendo o rostinho já vermelho e inchado entre as mãos.

O drama da confissão inesperada foi quebrado pela alta gargalhada do médico. Doutor André chegou a segurar a barriga e se apoiar na mesa para não perder o equilíbrio. Maria não podia acreditar! Coçou os olhinhos incrédula com a cena: como ele podia rir assim?

A ordem foi restabelecida quando Dona Vicentina abriu novamente a porta, também atraída pelo inesperado barulho que saía de dentro daquela sala. O médico se recompôs, entregou um lenço para a Maria, agachou na sua frente e disse olhando nos seus olhos:

— Vai ficar tudo bem, menina. Como diria minha avó, quando casar, sara. Você não precisa de outro medicamento.

CASAR?? Até ele???, pensou Maria. A inesperada prescrição médica foi seguida de um beijo na testa da garotinha, que continuava impávida com a situação. Doutor André também deixou estática a T-Rex, que ganhou um tapinha no ombro e o seguinte comentário:

— Eu adoro esse trabalho. Você não, Vice?

 Capítulo 2

 Maria saiu correndo da enfermaria e foi direto para o banheiro, contrariando as ordens de Dona Vicentina. Entrou derrubando as portas e foi direto para o terceiro cubículo. Sentou-se no vaso e disparou a chorar, sentindo-se ainda mais desesperada, completamente sem esperança. As perguntas enfileiravam-se em sua mente fértil: por que o Doutor André, sua única salvação, reagira daquele jeito? Será que sua doença não era no corpo? Seria na cabeça? Seria ela louca? Por que ela tinha que se casar?

Ela se recordou, então, de ter visto na televisão a história de um lugar para onde os loucos eram levados. Eles ficavam isolados das suas famílias, usavam roupas feias, admiravam o nada, falavam sozinhos, criavam histórias…BINGO! Era isso!

Ela também adorava histórias. Gostava quando liam para ela, escutava escondido o que o papai e a mamãe contavam para os amigos sobre suas viagens e trabalho, curtia filmes e desenhos. Já tinha visto mais de cinquenta vezes o da Princesa Elsa, que teve que se isolar de todo mundo só porque era diferente. Seu preferido era o da lutadora que se fingia de menino e ia à guerra defender a honra da família. Maria se deu conta de que, assim como os loucos, também gostava de inventar histórias. Só que ela achava que só a Bete e o Fernando, seus melhores amigos, sabiam disso. Às vezes ela contava uma ou outra para a vovó só para animá-la. Afinal, ela estava sempre quietinha, vestida com roupas escuras e parecendo meio triste. Esse era o jeito de Maria de animá-la.  Será que meus pais perceberam e querem evitar que eu seja levada para bem longe?, questionou-se Maria. Só a possibilidade de viver sozinha em uma colina gelada revirou ainda mais seu estômago.

A batida de uma porta fez com que Maria despertasse do seu delírio. Ela já não estava mais sozinha no banheiro feminino. Era melhor que ninguém mais soubesse que ela era doente. O mundo já estava difícil demais. Maria, então, assou o nariz e correu para a sala de aula. Estranhou quando a classe inteira olhou espantada para ela. Será que todos já sabem?, pensou. Seus olhos já estavam cobertos de lágrimas, quando a Professora Letícia puxou sua mão.

— Venha, Maria. Sente-se com a Bete e tente acompanhar a lição. Conversamos depois.

Enquanto se dirigia à carteira, a amiguinha já abria espaço.

— Eu não sabia que você estava doente. É grave?

Maria nada disse; só confirmou com a cabeça, enquanto escondia com a mãozinha uma lágrima que teimava em cair no cantinho do olho direito.

Aquele definitivamente não seria um dia como os outros. Seu coração estava apertado e sua mente bem longe daquela sala tão colorida e cheia de vida. Sentia-se oprimida pelos olhares daqueles que chamava de amigos. Maria sempre adorou ir para a escola. Esperava com ansiedade o início do ano letivo – separava as canetinhas, apontava os lápis e sempre cometia a extravagância de pedir uma mochila e mais um estojo para os pais. Ela não ligava para esmaltes, presilhas e até maquiagem como algumas de suas coleguinhas. Contentava-se em alisar o uniforme novo e contar os dias para o grande dia.

Ela morava em um condomínio muito distante da cidade. A mãe dela sempre dizia que aquele era o cantinho mais seguro do mundo. O pai de Maria não parecia gostar muito de lá. Levava quase três horas para ir e voltar, irritava-se muito e, às vezes, até brigava com a esposa. No final, concordava que não havia lugar melhor para os seus filhos que dentro daqueles muros altos. “Eles não estão isolados; crescem protegidos e em uma comunidade saudável”, repetia à mãe de Maria.

A garotinha não entendia o que de tão feroz existia no mundo. Ela adorava o barulho, o movimento, as cores e os cheiros. Um dia, durante uma excursão da escola ao zoológico, ela chegou a pensar que vivia enclausurada como o leão. Só que nem os muros da cela dele eram tão altos. Embora estivesse acostumada, a vida no condomínio era sempre igual: das paisagens à rotina, tudo sempre previsível e controlado.

Ela morava em uma das dez torres residenciais que rodeavam uma enorme piscina como aquelas dos Jogos Olímpicos. A área de lazer se estendia por toda a área térrea, incluindo os espaços das torres, formando uma pequena cidade. Havia academia, estúdio de balé e de artes marciais, quadras esportivas, padaria, farmácia, salão de jogos, lavanderia, cinema, escola de inglês, biblioteca, entre outros serviços e facilidades. Maria e seus irmãos só tinham autorização para deixar aquele território vigiado para ir à escola; as demais atividades – físicas, artísticas, esportivas ou até reforço escolar – eram realizadas dentro da fronteira.

Por isso, adorava quando Nivaldo, o motorista da perua, chegava para levar a criançada do condomínio para a escola. Ela sentava-se bem ao seu lado para poder degustar o mundo. Com a visão privilegiada, notava o modelo dos carros, o semblante dos motoristas, as cores dos muros, a agitação nas calçadas. Distraía-se com as histórias de Nivaldo, com quem também compartilhava geralmente o que aprendia na sala da Professora Letícia.

Naquele dia fatídico não foi assim. Maria não prestou atenção ao que Nivaldo dizia, embora ele tenha protestado mais de uma vez. Pudera, a menina passou o caminho todo sem fazer uma só pergunta!

Sentada ao lado de Bete, ela tentou acompanhar os exercícios passados pela professora, mas sua mente não respondia. Sua letra, sempre tão caprichada, saía tremida, acompanhando as batidas do seu coração. Ele até parecia ter saído do lugar – tinha saltado para a garganta!

Foi o dia mais longo da sua vida. Aquelas horas pareceram a mais terrível punição para Maria. Ela não era muito levada, mas já tinha ficado de castigo algumas vezes. Uma vez ela não pôde brincar com Bete e Fernando durante uma tarde inteira; na outra, ela foi proibida de dizer qualquer palavra o dia todo. Só que nada, nada!, se comparava àquele momento.

Quando o sinal finalmente tocou, anunciando o intervalo, ela bem que tentou escapar rapidamente para o recreio, mas a Professora Letícia foi mais rápida. Pediu-lhe que esperasse e, somente quando a sala ficou vazia, não restando mais ninguém além das duas, disparou:

— O que aconteceu, Maria? Soube que estava na enfermaria, está com cara de choro e não fez um comentário sequer durante a aula. Cadê a minha menina tão alegre e participativa?

Sentada à frente da professora, a garotinha nada respondeu. Com os olhos baixos e quase sem vida, limitou-se a agitar a cabeça. Letícia insistiu:

— Você pode confiar em mim. O que acontece aqui e aqui? – disse apontando para a cabecinha e depois para o coração de Maria.

— A senhora não vai entender. Ninguém entende.

— Por que você não me dá uma chance? Depois de tanto tempo juntas, eu não mereço esse voto de confiança?

Pela primeira vez, Maria ergueu os olhos e encarou a professora. Rendeu-se ao bom argumento, mas colocou sua condição.

— A senhora promete me dizer a verdade?

— Eu prometo ouvi-la e fazer tudo ao meu alcance para ajudá-la.

A garotinha pensou por uns dois minutos, tomou fôlego, e diante do olhar encorajador da professora, disparou:

— Eu achava que tinha uma doença muito grave que nem a do vovô. Ele não pode fazer nada, nem brincar com os amigos ou comer torresminho e qualquer comida que tenha gosto. Ele até já chorou porque não quer viver assim, com todo mundo mandando nele. Eu achei que esse era o meu problema, mas não é. É mais grave. Eu vou ser mandada para bem longe. Sozinha.

A Professora Letícia lecionava há mais de dez anos e nunca havia escutado uma história como aquela.

— Explique-me direitinho isso, Maria. O que é que você tem?

A garotinha encolheu-se diante da pergunta, que parecia ter drenado todas as suas forças.

— O Doutor André riu de mim.

Pacientemente, a professora encostou no queixo de Maria, olhou bem para os seus olhos e disse:

— Prometo que não vou rir de você.

Maria tomou fôlego e disse:

— Eu sou menina pra casar.

A professora ainda esperou mais alguns minutos, esperando por algum comentário adicional.

— Essa é a sua doença? – questionou afinal, esforçando-se para cumprir a promessa que tinha feito pouco antes.

— Sim.

— E por que você acha que isso é uma doença, Maria?

— Porque, assim como o vovô, eles não me deixam fazer nada que quero.

A garotinha começou, então, uma longa lista:

— Eu fui para a praia e não podia pegar onda, porque sou menina pra casar. Eu odeio fazer bolos e castelos de areia! Queria usar shorts sem camisa, mas menina pra casar usa vestido. Como eu posso brincar assim? Não posso empinar pipa ou jogar futebol, não posso nem me sentar no chão. Comer coxinha de frango com as mãos está proibido e também brincar com carrinho, aprender a lutar, subir na árvore, fazer guerrinha de papel e tocar violão. Menina pra casar tem que aprender a costurar, dançar balé e tocar piano. Precisa ter dedos finos, postura e gosto refinado. Menina pra casar precisa comer direito e ter modos à mesa. Eu não quero ser menina pra casar!!!

Na medida em que a lista aumentava (e parecia não ter fim!), Maria ficava mais vermelha e sua voz, mais alta. A Professora Letícia tentou acalmá-la.

— Acalme-se, Maria. Acho que já entendi onde você quer chegar. Você não faz o que quer…

A garotinha interrompeu a professora:

— …PORQUE SOU MENINA PRA CASAR!!!

Letícia até se assustou com o agudo.

— E tem mais!

— Mais? – repetiu a Professora Letícia.

— Eu sempre achei que era uma doença igual à do vovô, mas hoje eu descobri que é mais grave.

— Por que você diz isso, Maria?

— Porque o Dr. André me examinou e disse que não tenho nada.

— E isso não é bom? Não te deixou tranquila?

— Não. O vovô tem problema no coração, todo mundo sabe. O meu está normal.

Ela baixou, então, o tom de voz.

— Só pode ser na minha cabeça.

— Como assim? Você sente dores na cabeça? – Letícia sentia dificuldade às vezes para acompanhar o raciocínio daquela garotinha de seis anos.

— Não. Eu aposto que a mamãe e o papai não querem me contar que sou louca. Eles não conseguem admitir. Eu sou diferente das outras meninas.

— E é mesmo, Maria.

A garotinha ficou tão chocada com o comentário da professora que seu queixo caiu. Ela pediu honestidade, mas não estava esperando tanta.

Letícia completou:

— Você não é igual às outras meninas. Ninguém é. Todo ser humano é único, não tem um igual ao outro. Veja os seus pais, eles não são diferentes na aparência e no jeito? E os seus irmãos? Cada um não tem um gosto e um temperamento? Essa diferença entre as pessoas é parte da graça da vida, Maria.

Letícia puxou as mãos da menina para si:

— Agora preste bem atenção no que vou te dizer.

Maria nem piscava.

— Não há nada de errado em ser diferente, nada de errado em ter outros gostos, nada de errado em ser…

A pausa da professora fez o coração de Maria saltar da garganta para a cabeça.

— …menina pra casar…

Maria franziu a testa. Ela também sentia dificuldade em acompanhar o raciocínio da professora às vezes.

—… desde que esse seja o seu desejo.

A garotinha chacoalhou a cabeça, bagunçando ainda mais sua cabeleira encaracolada.

— Eu não estou entendendo nada. Não é ruim então?

A Professora Letícia retomou sua explicação:

— Não, não é ruim e muito menos é uma doença. Menina pra casar é uma expressão usada há muitos anos, desde que a minha avó tinha a sua idade. A sociedade sempre esperou e até exigiu das meninas e mulheres um comportamento e uma linguagem diferentes. Enquanto os meninos sempre tiveram total liberdade e são até desculpados por seus excessos, nós, mulheres, sempre fomos incentivadas e vigiadas para andar na linha para não sermos mal julgadas. Vontades e direitos eram suprimidos. Com o passar do tempo, muita coisa mudou para melhor. As mulheres hoje votam, são independentes financeiramente, saem de casa sozinhas. Há ainda um longo caminho para que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens. Do outro lado do mundo, por exemplo, há hoje menininhas da sua idade que são impedidas de ir à escola.

Maria esbugalhou os olhos.

— Mas por quê?

— Porque vivem sob regimes que não reconhecem seus direitos. Já pensou como seria não poder aprender e desenhar com seus amiguinhos?

Maria pulou no pescoço da professora.

— Não quero nem pensar.

Letícia a abraçou.

— E não precisa. O importante é você entender que não está doente nem maluca. Seus pais simplesmente expressam um desejo. Você é linda, adorável, tem muitos talentos e pode atrair um marido lindo um dia, se assim quiser.

A professora mal finalizou a frase e o sinal ecoou, informando o fim do recreio.

— Agora corra, Maria. Eu lhe darei uns minutinhos extras, mas não conte para ninguém.

A garotinha beijou a professora e sorriu em cumplicidade. Parecia aliviada, mas seus pensamentos ainda não estavam em ordem. Sentia-se anestesiada diante de tanta informação: não estava doente, não era louca, meninas sem estudo, privilégios.

Nitidamente preocupados com a amiga, Bete lhe deu um chocolate de presente, enquanto Fernando lhe contou uma história sobre o seu gato. Maria esforçou-se, mas também não deu muita atenção à leitura do dia e suou para resolver uma conta de matemática. No caminho para casa, sentou-se quieta ao lado de Nivaldo, driblando todas as tentativas do motorista de puxar conversa. Disse a ele que sentia dor de cabeça. E sentia.

Até o almoço tinha perdido o sabor naquele dia. E olha que a mãe dela havia preparado seu prato predileto: macarrão com almôndegas. A falta de apetite da filha, que rolava os bolinhos de carne de um lado para o outro, incomodou Dona Helena.

— Já expliquei que é feio brincar com comida, Maria. O que aconteceu? Comeu bobagem no recreio ou na perua?

— Não, mamãe. Não tenho fome.

— Desde quando? Está sentindo alguma coisa?

A menina fez que não. Enquanto passava os dedos pelo rosto e cabelos da neta, Dona Esther disse:

— Deve ser o calor. Está muito quente lá fora. Faça como a vovó: uma boa soneca revigora qualquer um.

Maria retirou-se silenciosamente da mesa e foi seguida por Bia, a vira-lata que a família havia adotado há dois anos. Nem tirou o uniforme e já se jogou na cama. Ao aninhar a cachorrinha em seus braços, disse:

— Não entendo mais nada, Bia.

Emocionalmente exausta, a garotinha caiu imediatamente em sono profundo.

A Maria está só começando sua jornada. Sua aventura transformou a sua vida, a da sua família e a de pessoas que ela nem imaginava. Não deixe de acompanhar o resto dessa história na Amazon, por apenas R$ 5,99.

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