
Marina tinha várias opções: carregar uma mágoa e desistir de seus sonhos ou insistir. Esse último caminho é mais longo e muito mais trabalhoso. É também mais nobre, pois pressupõe colocar-se a serviço de uma causa e, assim, construir um legado, às vezes, invisível. Foi essa a opção que ela fez.
“Você tem quer ter uma experiência autêntica só sua”. Esse foi o primeiro puxão de orelha do marido Amyr. Na época, Marina havia escolhido utilizar os 30 anos de experiência em organização de eventos para planejar e facilitar as expedições do navegador. O comentário, que soaria como ingratidão para alguns, virou o passaporte para aventuras próprias, como embarcar em um navio russo para cruzar o círculo polar, andar de trenó na Lapônia e percorrer o deserto da Namíbia. “Até minhas filhas perguntavam: mamãe, por que é que você sempre viaja para os lugares remotos?”.
Suas expedições nada tinham de solitárias: nos locais mais inabitados do planeta, sem a companhia da família ou de amigos, ela aprendeu a se conectar com a natureza. “É preciso se desconectar dos eletrônicos, aprender a esperar e estar atenta aos sinais da natureza”. Pode parecer ironia, mas foi nas águas geladas da Antártica que Marina teve uma das experiências mais calorosas de sua vida. Uma baleia jubarte aproximou-se do bote onde estava a tal ponto que Marina conseguiu tocá-la. Foi explorando lugares onde o homem moderno não pisou que Marina aprofundou sua conexão com a natureza e os riscos oferecidos pela falta de consciência e cuidado do ser humano. “Não existe jogar fora”, defende a hoje ativista, que ensina e prática o consumo sustentável e o descarte de resíduos.
Mais uma bronca – “Marina, desce daí. Suas fotos não servem para nada”. Quando escutou isso, a ex-assessora de eventos equilibrava seu café e sua câmera a 33 metros de altura, do alto de um mastro. Registrar o que observava era, até então, uma terapia. Depois do comentário, virou profissão. Os cliques de Marina deixaram de alimentar somente os álbuns de família para virar exposições e livros. “Até aquele momento, minhas fotos realmente não serviam para nada. Até que eu resolvi tirá-las da gaveta e fazer acontecer”.
Ela abriu também o blog 1 Café e a Conta e abriu uma conta no Instagram, onde compartilha o que experimenta Brasil e mundo afora. “Descobri que a gente tem a capacidade de transformar, de abrir portas e criar um legado”. Tornou-se, assim, uma respeitada fotógrafa e crítica de café. “Sou também uma empreendedora. Eu não abri uma empresa, mas soube identificar oportunidades, tirá-las do papel e fazer o projeto crescer”.
Esse espírito também contagiou a família. Ao ver a tristeza das filhas pela ausência do pai em uma festa da escola, Marina resolveu transformar aquela decepção em orgulho pelo trabalho e ausência de Amyr. Surpreendeu a todos ao embarcar a família toda, incluindo as 3 crianças pequenas, no Paratii 2 rumo à Antártica. “Elas aprenderam sobre convívio em família, assumiram responsabilidades, dividiram tarefas, descobriram como é viajar para um lugar distante, conheceram novas espécies e entenderam sobre preservação da natureza. Ali as características e habilidades de cada uma vieram à tona e nós aprendemos e nos surpreendemos juntos”. Uma das responsabilidades assumidas pelas três meninas – Tamara, Laura e Marininha – foi a produção de um diário. Todos os dias elas dedicavam tempo a escrever ou desenhar o que tinham vivido. “Eu aprendi que tudo que é inesquecível a gente infelizmente esquece, mas o diário permanece e a fotografia congela aquele instante para sempre”, explica a mãe empreendedora.
As aventuras da família, também por incentivo de Marina, foram compartilhadas na escola. A narrativa curiosa e espontânea das meninas virou o livro Férias na Antártica, já em sua 10ª edição e adotada pela rede pública de ensino. De salas de aula as irmãs Klink passaram a encher teatros, sempre com a mensagem de preservação da natureza. De cada encontro nascem novos pequenos ativistas, admiradores e sonhos, que fortalezem o legado de Marina. “Às vezes, sentimos que somos invisíveis, mas eu aprendi que não importa se os outros nos veem se estamos construindo algo. É isso, a construção de algo maior que nós mesmos, que nos torna importante”. Protagonista da própria história, Marina afirma: todos nós temos, pelo menos, uma história para contar e somos mais importantes do que imaginamos. Alguém duvida?
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