Maria Eiko deixa qualquer um impressionado quando conta que dedicou quase quatro décadas da sua vida a uma única empresa. Parece loucura, não é? Quando chegou à Schneider Electric, em 01 de setembro de 1976, Maria era solteira e nem sabia muito o que esperar. Descobriu seu propósito ali, no dia a dia, construindo com dedicação e comprometimento uma carreira de (boas) surpresas. 

Foi a amiga Nadir quem recomendou aquele emprego em uma companhia francesa de grande porte, que ficava tão perto da sua casa que ela podia caminhar até lá. Seu processo seletivo foi tenso. Ela teve, primeiro, que passar pelo crivo da Sra. Teresa Abdalla que, sempre séria e sisuda, causava calafrios. “No teste de datilografia, ela ficou na sala marcando o tempo. Eu suei tanto que ela até teve que me acalmar”, relembra Maria, que passou ainda por um teste psicotécnico que se mantém até hoje uma incógnita. “Tinha que fechar os olhos e desenhar um retângulo, um triângulo, depois traçar um risco de 20 cm e, ao final, desenhar uma casa e uma árvore. Não entendi bem para quê isto servia, mas fazia parte do processo”. 

 A segunda barreira a ser enfrentada foi o pré-conceito do Sr. Shiga, gerente do Contas a Pagar. “Ele me bloqueou, dizendo que não me contrataria por ser descendente de japoneses. Já tinha um no departamento e ele não queria criar um grupo nipônico”.  Foi a secretária dele, a Cleusa, “uma mineira muito bacana”, quem interviu com o argumento de que Maria “parecia ser uma japonesinha muito esperta”.

Novas Culturas, Muitos Desafios

Maria chegou tímida e ansiosa ao seu primeiro dia de trabalho como Auxiliar de Contas a Pagar. Sua função era datilografar todos os cheques de pagamento de fornecedores e os respectivos memorandos. Para ter uma cópia no arquivo, eles eram datilografados com papel carbono, daqueles que deixavam os dedos escuros.  

Embora o departamento fosse grande, nem o tempo foi capaz de apagar da memória de Maria o nome de cada colega. Sua chefe era a Cidinha, uma futebolista de coração, que integrava o time feminino da empresa. Tinha ainda: “O rapaz que cuidava do caixa, que se chamava Marcão; o Sheiji, que era do Crédito; o Zaccarias, que era de O&M; a Cleusa, a secretária; o Juarez, o chefe de Crédito e Cobrança; mais os  office boys, que eram dois, o Edilson e o Magnus”.

Não demorou muito para que a empresa inteira se rendesse à eficiência e simpatia de Maria Eiko – inclusive, o Sr Shiga.  Sua primeira promoção, veja só, chegou pelas mãos do homem que quase impediu a sua contratação. “Ele me disse que eu era muito simpática com as pessoas e ele precisava disso para atender os gerentes dos bancos e os clientes internos”. 

Outras oportunidades logo surgiram – ela foi Secretária de Gerente, Secretária do Diretor Financeiro, Secretária da Presidência. “Seu primeiro presidente” foi Pierre Becker, assim que o francês desembarcou no Brasil. “Eu pude ver o quanto eu havia crescido na empresa: já falava francês e recebia os estrangeiros com segurança”, conta Maria, que se manteve na função por oito anos.

A parceria com o também francês René Orlandi, que sucedeu Becker, trouxe vários aprendizados para aquela que se tornou a principal testemunha de decisões muitas vezes traumáticas e dolorosas. Maria mantém até hoje o respeito e a amizade pelo antigo chefe, ainda que o tenha trocado para ser Coordenadora de Comunicação Interna e Expatriados.

Na nova função, ela desenhou, ao lado da então Diretora de RH, o primeiro plano de Comunicação da empresa. “Introduzimos os quadros de avisos em todas as unidades, as reuniões mensais com diversos comitês, cascateamentos de informações com funcionários e o Café com o Presidente, do qual participavam, bimestralmente, funcionários das plantas fabris e do Administrativo”.

Com os expatriados, Maria tomou para si não só a missão de cuidar da documentação, mas de realmente acolhê-los em nosso país. Formada em Turismo, ela promoveu city tour com as famílias, ajudou na matrícula dos filhos na escola e, principalmente, demonstrou desde o primeiro minuto o calor do brasileiro. O sucessor de Orlandi, Bernard Mangin, nunca se esqueceu do que viu. “Ele falava com carinho aos outros expatriados sobre o cuidado que eu tive para receber a família dele. No apartamento havia na mesa uma bandeja com frutas, pães e chocolates; na geladeira, água, suco e queijos. Ele dizia que esta delicadeza ele jamais esqueceria”.

Foram os elogios dele que levaram o argentino Carlos Loscalzo, diretor de marketing da empresa, a convidá-la para a função de Assistente de Marketing. “Foi outro desafio, mas muito gratificante. Conheci os produtos, participei dos eventos, tive contato com clientes”. 

Quando as unidades de negócios foram formadas, ela começou mais um capítulo da sua história. Maria permaneceu três anos com David Claudino, que retornou para Portugal. Com Rogério Zampronha, ela firmou mais uma parceria de sucesso, que se estendeu até a Presidência. “Quando você almeja uma posição, você se esforça e mostra a sua competência. Sinto muito orgulho por tudo que aprendi e fiz dentro da Schneider Electric Brasil”. Ali ela cresceu não só profissionalmente – seu marido Tadeu, que trabalhou na mesma empresa por 12 anos, e o filho Rafael são prova disso.

Maria escolheu se aposentar em 2015, mas se mantém ativa e conserva em suas atividades atuais o mesmo propósito que a conduziu nos 39 anos na empresa francesa: ser reconhecida por fazer a diferença. Esse é o jeito Maria Eiko Kubo da Silva de ser.