A criadora da Madah Lingerie: com seu sorriso contagiante e olhar curioso, está sempre pronta para ajudar

Madah tinha apenas 12 anos quando recebeu em seus braços um bebezinho. Coube à caçula de quatro irmãos, que nunca tinha tido uma boneca na vida, cuidar do recém-nascido de uma amiga da família em Fernandópolis (SP). Ali começou a história de uma mulher que escolheu fazer do acolhimento sua missão de vida.

O dicionário traz, pelo menos, cinco definições para este verbo transitivo direto:

1 Hospedar ou obter hospedagem; albergar(-se), agasalhar(-se);

2 Dar crédito a; dar ouvido a; levar em consideração;

3 Admitir (alguém) em seu convívio;

4 Opor determinado tipo de comportamento a outro; acatar, aceitar, receber;

5 Deferir algo (pedido, opinião, requerimento etc.)

Madah diz que nunca foi muito fã de estudar, mas percebeu, ainda menina, o quanto esse verbo ativo exige coragem, empatia e resiliência para colocar em prática tudo que “o pai dos burros” tentar explicar. Aprendeu, ao longo da sua vida, a acolher não só pessoas, mas também oportunidades, conhecimento e ideias.

Aos 18 anos, ela, que já tinha trabalhado como doméstica, conseguiu um emprego como faxineira na Santa Casa da cidade onde morava. “Eu me encantei por esse trabalho. Poder ajudar os outros, ainda que fosse só limpando, fez com que eu me encontrasse.” Com humildade e curiosidade, Madah transformou essa oportunidade em um curso intensivo e não demorou a galgar outros espaços e desafios. A vassoura foi logo colocada de lado para dar espaço a outras tarefas, em outros setores do hospital, como a Pediatria. “Antigamente os pais levavam a criança e não podiam ficar junto. Era eu quem dava banho e dormia com elas, como se fosse uma irmã mais velha. Eu não via doentes, mas crianças precisando de cuidados. Até sarna eu peguei”.

Quando foi transferida para a Emergência, Madah levou o seu sorriso contagiante, a sua vontade de ser útil e o seu olhar curioso. Para ela, não havia tempo ruim, nem trabalho pesado demais. Nada era capaz de desencorajá-la – nem o sangue. “A primeira vez que eu vi uma pessoa chegando toda cortada, com muito sangue, eu desmaiei. Acordei em outro espaço e virei piada. Se oferecia ajuda, os enfermeiros e médicos diziam: tudo bem, mas traz alguém para te segurar”.

Madah não desistiu – insistiu e passou a observar de perto o trabalho da enfermagem. O zelo e o cuidado desses profissionais causavam-lhe admiração. Quem a fisgou, porém, foi o centro cirúrgico. “Quando me mandaram limpar a sala de cirurgia, encontrei meu melhor ponto. Como todo amor à primeira vista, não há muita explicação, é uma entrega. Não sei dizer o motivo de tanta paixão, mas acho que tem a ver com o lutar pela vida, o nascimento de uma vida, tudo que acontece ali.”

Naquele espaço sagrado, Madah adicionou à sua fórmula de sucesso a paixão. Enquanto fazia o seu trabalho, ela observava tudo, sugando cada vez mais conhecimento. Em vez de medo, sentia era vontade de fazer mais. E logo passou a cobrir plantões e até férias dos colegas. “Essa foi a minha entrada no mundo dos cuidados com as pessoas. Naquele hospital pequeno, eu descobri um novo universo. Quando você vem de baixo, você aprende tudo que pode e, se tiver curiosidade e vontade, vai muito além do que a sua imaginação pode alcançar.”

Aos 19 anos, quando decidiu morar em São Paulo, a experiência de Madah não passou despercebida. Logo conseguiu um emprego no centro cirúrgico de um hospital na Pompéia, a poucas quadras da casa da tia. Conheceu ali um ginecologista e obstetra, que a incentivou a dar mais um passo na sua carreira e se tornar instrumentadora. “É uma profissão que exige, mais do que atenção, integração a tudo o que está acontecendo. Só assim você consegue se antecipar às necessidades do cirurgião e se diferenciar. Esse é o bom profissional.”

É claro que essa escalada profissional também foi suportada por estudos: Madah voltou para a sala de aula, fez supletivo e cursos profissionalizantes de atendente e, depois, auxiliar de enfermagem, além de instrumentação cirúrgica. “Além da experiência que tinha, meu currículo era de fazer inveja. Eu sabia fazer tudo, não ficava durinha em frente à minha mesa de material”.

Além de hospitais, ela passou também, ao longo da carreira, por consultórios médicos, postos de saúde e clínicas privadas. Percebeu que não existe diferença entre o ser humano da classe C e D com o da classe A e AA. “A carência é a mesma: informação e carinho”. E era justamente isso que ela mais gostava de oferecer.

Um dia, um chefe, dono da clínica onde trabalhava, comentou não só que ela tinha muita habilidade com o cliente, mas também que ela sabia vender. Desde o tempo em que cuidava daquele bebezinho, no início da adolescência, Madah aprendeu a observar atentamente cada procedimento, do mais simples ao mais complexo, e a colecionar estratégias e dicas para eliminar o desconforto e oferecer amor ao paciente.

Encorajada por esse comentário, ela resolveu acolher uma ideia que tinha na cabeça e acreditar no seu potencial. Ela via muitas mulheres, pelos mais diferentes motivos, se queixarem de dores no corpo. Notou que as roupas íntimas deixavam marcas, não ofereciam sustentação, tampouco conforto. Foi assim que resolveu criar, com ajuda de uma costureira, um sutiã mais funcional. Devia ser mais prático para abrir e fechar e ter um tecido mais suave, que não machucasse a pele. Depois de muitos testes, inclusive em amigas, elas encontrou o modelo ideal. Aos poucos, surgiram outros produtos de roupa íntima, tanto para mulheres, quanto para homens, capazes de oferecer tanto conforto quanto um abraço. E não pense você que essas peças são vendidas em uma loja convencional.

A filosofia de acolhimento de Madah é a alma do negócio e está presente em tudo. Em um espaço reservado, dentro de um prédio comercial, ela recebe clientes, com hora marcada, para uma experiência quase terapêutica. Naquele ambiente clean e confortável, ninguém é estimulado a comprar freneticamente. Ali o que impera é o diálogo. “Dor nem sempre a gente trata no hospital ou com remédio. E a dor na alma é a pior que uma pessoa pode ter”. Julgamento e discriminação são terminantemente proibidos. A ordem é acolher e entender as necessidades de quem quer que apareça naquela porta, de onde quer que venha, por qualquer motivo que seja.

Por ali, passam pessoas que estão acima do peso, pessoas que receberam diagnósticos devastadores, pessoas com dores nas costas, pessoas que carregam machucados invisíveis a olho nu, pessoas encharcadas de medos e expectativas. É o caso, por exemplo, de pais de primeira viagem. “A gestante, muitas vezes, não tem posição para dormir. Eu gosto de ensiná-la a como se deitar e a como posicionar os travesseiros para que possa descansar e chegar mais tranquila ao nono mês. Esse atendimento especializado, comigo ou com as consultoras, permite muito mais do que apenas vender um sutiã funcional. Nós falamos sobre amamentação, sobre dicas e informações que ela nem imagina, que ninguém nem lembrou de mencionar. E o papai não é deixado fora do provador. Ele é integrado à conversa para poder acolher também o serzinho que vem e a nossa família que se forma.”

Entre os itens funcionais para as mamães, aliás, está um anel de pedrinhas. “Aquela amiga da família para quem trabalhei sempre trocava a aliança de mão, de acordo com as mamadas. Servia como um lembrete: se o bebê mamou menos do lado esquerdo, era na mão deste lado que o anel ficava, para que daí começasse a alimentação da próxima vez. Eu nunca me esqueci disso e resolvi homenageá-la, ao passar adiante um truque tão simples e valioso.”

Madah diz que nunca soube o que queria ser, tampouco criou expectativas sobre onde chegaria. “Meu sonho sempre foi ser feliz. Nunca foi ser bonita.”, brinca. “Se sou feliz, eu consigo fazer outras pessoas felizes. E essa é uma receita que tem dado certo”.