
Telma escutou. E morra de inveja: aos 15 anos. Ali, ainda adolescente, ela já sabia qual seria sua missão: ajudar a transformar a vida das pessoas. Com esse objetivo em mente, entrou na faculdade de Psicologia. Quando terminou, achou que ainda lhe faltava algo, uma análise mais critica, e então mergulhou na Psicanálise. Só que…
… como é possível mudar a vida das pessoas sem uma abordagem lúdica? Lá foi ela fazer Pedagogia. Suficiente? Não, ela precisava atingir o coração e a mente das pessoas e por isso foi atrás de um MBA de Planejamento Estratégico. Incansável, arranjou ainda fôlego para fazer Teologia. Só assim sentiu-se pronta para atender as pessoas. Prefere grupos – pelo desafio e pela troca. Seus clientes são geralmente empresas, embora dedique-se a 3 atendimentos individuais por semana. Nada mais do que isso. Sua especialidade? Coaching de personalidade. Até um músico, integrante de um famoso grupo de rap, é seu cliente. Afinal, quem disse que a fama está diretamente relacionada ao autoconhecimento? À realização?
Do outro lado da sala, Amanda perde-se em interrogações. Quem vê aquela menina de corpo esguio, braço direito tatuado, piercing no nariz e cabelos negros, longos e lisos nem imagina que falte algo ali. Ela exala personalidade, mas se sente uma menina, ainda que tenha 25 anos e 5 faculdades no currículo – 4 incompletas e uma em andamento, é verdade. Passou em jornalismo, mudou para Relações Públicas, jogou-se em Veterinária, que trocou por Rádio e TV e agora por Publicidade. O pai, que se encontrou em um workshop de mindfulness, pensou que seria útil para sua princesa um curso alternativo e inspiracional com o título “Como encontrar um trabalho que você ame”. Foi o presente de Natal da filha.
No dia D, Amanda atravessou a cidade debaixo de trovões, raios e muita água para três horas de teorias, dinâmicas e testemunhos como o de Maria, uma senhora de 62 anos, declaradamente segura e realizada, mas em busca de insights, nem que fosse para a sua sonhada oficina de patchwork.
Se valeu o presente de Natal? Amanda diz que sim. Valeu para incrementar a complexidade das perguntas e dúvidas em sua cabeça. Serviu para decidir que essa faculdade de publicidade ela terá que terminar, nem que seja para dar um testemunho mais robusto na frente de desconhecidos na próxima vez que seu pai tentar consertar a sua cabeça.
Porque a única certeza de que ela tem nas suas duas décadas de vida é que se não levar seu cachorro para passear todas as manhãs, ele destrói a sua casa. Esse é o chamado da sua vida.
Deixe um comentário