
36 graus de dia, 28 graus à noite.
Um vento indigesto, quente e seco, de dia; nem uma brisa à noite.
A cortina do meu quarto parecia pregada à janela, e o lençol fino, uma flanela áspera. Nada trazia alívio. Nem vou falar da aflição com o suor que escorria na dobrinha do joelho, com o cabelo grudado na nuca.
Mesmo sem ter intimidade nenhuma com insetos (por opção mesmo), percebi algo diferente. Estavam mais barulhentos, em uma inquietação distinta das outras noites de fervor primaveril. Distingui facilmente as estressadas cigarras, acompanhadas de timbres desconhecidos. Um coaxar aqui e ali? Estranho!
Não vejo sapo por essas terras desde a infância, quando o Zeca, que não virou príncipe, mas pet, nos presenteava com suas visitas noturnas. Ouvi atentamente e me senti, de novo, naquela ecovila de Juquitiba, onde a natureza era mais luminosa – desperta à noite e imponente pela manhã.
Às 22h36 (sim, eu me lembro até dos minutos), o mistério foi resolvido. Um estrondo irrompeu, seguido de notas musicais suaves. Já não se ouvia mais os insetos, agora reduzidos a uma nova categoria – não de expectadores, mas de apreciadores da chuva torrencial que há muito não se via. Nós (sim, agora, nós) nos deleitamos!
Já não precisava mais rolar de um lado para o outro. Acomodei-me sobre a minha relva de espuma e, sob a escuridão, observei, ouvi, despertei, vivi. Ri com a euforia silenciosa das plantas do quintal pelo banho de descarrego repentino.
Chequei a temperatura: 27 graus. Pouca diferença, quanta mudança! Uma brisa gentil fazia da cortina de renda branca sua saia rodada. Bailava, para lá e para cá, para cá e para lá. Sem-vergonha, sem-medida, no próprio ritmo. A vida ainda é quente, mas linda, de novo.
08/10/2020 at 9:55 am
Extraindo histórias encantadoras dos momentos mais adversos! 😘
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