Eu já conhecia Isabel há algum tempo, mas só me conectei com ela quando a vi falar sobre suas dores e alegrias, sem lamentos ou excessos. Vi-me diante de uma mulher sóbria, com voz firme e pausada, sem vergonha de contar tudo que viveu.

Isabel nasceu em um mundo analógico, sem pressa de experimentar ou de consumir, sem medo de perder algo além daquilo que está bem diante dos olhos, desafiando, acolhendo, convidando-a a viver. Sua narrativa segue o mesmo ritmo: é intimista e provoca saudade de um tempo em que as boas conversas aconteciam ao redor da mesa da cozinha, com um café passado na hora, para acompanhar o bolo de fubá que acabou de sair do forno.

Foi com essa simplicidade e intensidade que Isabel Allende me conduziu pelos momentos mais importantes de sua vida. Passeei pelo Chile, pela Bolívia, pelo Líbano, pela Venezuela, pela Espanha e pelos Estados Unidos. Envolvi-me nas despedidas de sua vida – principalmente, na dos avós, da sogra e da filha Paula, a mais doída de todas, até para quem, como eu, não gerou uma criança.

Ensinou-me, enfim, que só desfruta da mágica da vidaquem tem coragem de se entregar inteiro ao desconhecido.Para fazer dos limões uma marguerita, é preciso se conectar ao mundo off-line, tão diferente desse universo de palavras e imagens, que nos faz esquecer de que a vida não precisa de filtros, likes ou adjetivos. Ela é, em essência, um belo e poderoso substantivo.

Não acha?