– Você usa o Trello? –  perguntou-me o cliente.

– Não.

– Google Agenda?

– Não, uso agenda de papel mesmo.

– E como as pessoas sabem se você está disponível para reuniões? – insistiu, em um misto de curiosidade e incômodo.

– Elas me perguntam.

– Toda vez?

– Sim.

Depois de um silêncio constrangedor:

– Você prefere usar o Zoom para gravar a reunião?

– Tanto faz. – respondi. – Confio mais nas minhas anotações mesmo.

– No computador?

– No caderno.

– Você escreve à mão?

– Sim.

– Não me diga que usa lápis também.

– Caneta. Colorida. Adoro a Bic 4 cores, para diferenciar dados oficiais de ideias malucas.

A expressão do cliente não era totalmente desconhecida. Já a vi no rosto de um chefe, incrédulo com a minha preferência por um dispositivo de rádio a pilha em vez de um iPod, e na de um amigo, que nunca se conformou com a minha escolha de desligar a internet entre 20 e 21 horas. Embora segura das minhas decisões, a reação das pessoas sempre me faz sentir

uma mulher das cavernas do século XXI.

Eu juro: tenho as unhas aparadas e o cabelo e os pelos controlados na maior parte do tempo. É verdade, porém, que adoro andar descalça, acordar com os primeiros raios da manhã e me despedir do dia antes da Lua atingir o seu auge. O barulho da chuva no telhado me acalma, assim como o cheiro de terra molhada. Alimento-me de verduras, legumes e frutas e já abri mão de esmaltes e cosméticos industrializados pela quantidade de química presente neles. É na contemplação das nuvens que encontro a inspiração para os meus problemas e o conforto para a minha alma.

Não é uma aversão à tecnologia, a quem considero uma aliada para encurtar distâncias, derrubar muros e facilitar a vida de várias formas. No entanto, não quero mais fazer do trabalho o centro da minha existência, nem das telas o meu ponto de conexão com a vida e com todos os outros seres. Se isso me faz uma mulher das conversas, aproveito este espaço para agradecer às minhas ancestrais pela sabedoria contida em mim, que me torna, pouco a pouco, mais livre.

*** Esse texto foi, originalmente, publicado no blog Mais um Café?. Pegue a sua caneca e venha conversa com a gente no Facebook ou no Instagram.