Julia e Juliana eram gêmeas idênticas – pelo menos, na aparência. Mais velha, Julia vivia no futuro, listando onde queria estar nos próximos 5 e 10 anos. Mais nova, Juliana vivia no presente, desapegada do relógio, dedicada ao agora.
Julia vivia uma ansiedade incondicional, perseguindo o que queria implacavelmente, insatisfeita com o ritmo e com os resultados, ainda que temporários. Juliana vivia uma tranquilidade incondicional, uma tarefa por vez e uma fé inabalável na conspiração arquitetada pelo Universo para suprir suas necessidades.
Júlia era noturna, roqueira e amante de spinning, intercalado com um bom treino funcional; Juliana era matutina, curtia jazz e fazia liang-gong após longas caminhadas no meio do mato.
Julia divertia-se com os apps de namoros, com o ligar e desligar dos encontros e namoros, mesmo chorando de solidão nas noites frias de inverno. Juliana tinha uma alma antiga, adepta do olho no olho, de longas conversas e de conexões bem nutridas. Ela sorria da sua solitude nas noites estreladas de verão. Para fugir da realidade ou só relaxar,
Julia maratonava séries e filmes, enquanto Juliana rondava sebos e livrarias de rua. Gostava de sentir o cheiro das páginas amareladas dos livros, lidos sempre com muita moderação.
Julia já tinha martelado seu salto nos cinco continentes e sonhava com o seu próprio Comer Rezar Amar, começando por Paris, passando por Jerusalém e terminando em Honolulu. Já Juliana fugia de aglomerações, gostava de acampar, curtia praias vazias e museus ou cinema no meio da semana. Sonhava em descer para o Uruguai em um motor home.
As gêmeas não concordavam em quase nada: uma era católica, a outra, espiritualista; uma de direita, a outra de esquerda; uma era carnívora, a outra vegana. Entre tantas diferenças e divergências, elas sabiam que não tinham apenas dividido o mesmo ovo, o mesmo útero, os mesmos pais, o mesmo quarto, a mesma aparência. O respeito mútuo provinha do reconhecimento de um sentimento comum a qualquer ser humano: a vontade de ser feliz ao seu próprio modo.
26/08/2021 at 3:30 pm
Aí que delícia de texto, as diferenças são gostosas por d+, o que importa no final é ser feliz!
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