Margaret ganhou esse nome em homenagem a uma antropóloga famosa de quem seu pai, professor de História, era grande admirador. Foi com ele que ela aprendeu a estudar hábitos e costumes de civilizações antigas, vibrando com cada descoberta de pesquisadores,  arqueólogos e cientistas. Com a mesma curiosidade com que investigava o passado, ela também passou a observar o presente. Deslumbrava-se com as semelhanças entre a sua geração e aquela que visitava nos livros e museus.

Aos seus olhos, nós continuávamos a ser caçadores-coletores. Pela nossa sobrevivência, caçamos a felicidade, o corpo perfeito, status e sucesso. Coletamos experiências, conexões, imagens e bites. Sem moderação ou propósito, ficamos até obcecados por isso.

Ao contrário dos nossos ancestrais, nós também não aprendemos a conviver com tribos diferentes. Perdemos essa habilidade quando decidimos não percorrer mais quilômetros e quilômetros por dia. Por um lote de terra, desconectamos corpo, mente e coração. Ainda assim, muito se desenvolveu, muito se criou – inclusive, a competição, as guerras e as pandemias. Quem imaginaria que seria esse o início de uma nova época, marcada pelo cancelamento, pela discórdia e pelo burnout?

No silêncio do seu quarto à noite, Margaret sentia-se como estrelas encobertas pela poluição da cidade de pedra, com o brilho escondido por camadas e camadas de poeira. Questionava se um dia aprenderíamos com os erros, se teríamos coragem de abandonar os excessos, se seríamos capazes de unir o melhor dos dois mundos, para honrar os passos dos nossos ancestrais e, assim, fazer jus ao que denominamos “civilização”.