Você sabia que aquelas bolinhas disformes e cabeludas, conhecidas como inhame, foram trazidas da África pelos portugueses, mas são cultivadas na Índia desde 5 mil anos antes de Cristo?

Nós não aprendemos isso na escola, nem somos expostos às propriedades e aos benefícios da variedade de legumes e verduras da nossa terra. Sabedoria esta que os nativos sempre tiveram e passaram de geração em geração.

Estou cada vez mais convencida de que a facilidade de abrir uma lata ou pacote de alumínio, ou ainda de ter comida pronta com poucos cliques no aplicativo, inibe a criatividade. Jamais imaginaria que seria possível transformar aquela bolinha suja de terra em um creme a ser usado em massas, risotos ou pães. Ou que o inhame seria a base até… de um brigadeiro.

Eu sei, chega a ser difícil acreditar na versatilidade do mundo vegetal, muito além do feijão com arroz ou da salada verde de todo dia. Além disso, é uma ginástica arrumar tempo para “mais isso”, diante de tantas tentações ou facilidades. Contudo, é fato: a revolução que prometia deixar a vida do campo mais fácil, também nos distanciou do que nos nutre. Assim como desconhecemos as propriedades dos alimentos, também ignoramos todos os aditivos colocados dentro da prática embalagem.

Há quem acredite que sonhar com o preparo da comida é presságio de uma transformação a caminho. Sendo assim, ocupar a cozinha é viver diariamente essa transição, é ter coragem para ser e fazer a alquimia resultante não só da fusão dos ingredientes, mas também do cuidado em se dosar melhor a vida.

Trocar o molho industrializado pelo feito em casa, confie em mim, é a melhor prova disso. O cheiro do tomate assado inunda lentamente os ambientes da casa como um elixir da vida. É um convite para se revisitar crenças e para se (re)descobrir o propósito do que fazemos. É uma chance para exercitar a resiliência e para definir prioridades. É o desenvolvimento contínuo do corpo e da alma.

Cozinhar é um trabalho, às vezes, solitário; às vezes, ritmado; às vezes, exaustivo. Ainda assim, a efusão de cheiros, cores, sabores e texturas é um despertar. É o chamado para a evidente intersecção e colaboração de seres e sistemas; é o bilhete para plantar o futuro no aqui e agora: é a chance de curar feridas, prevenir moléstias, transmutar significados e unir pessoas. É o resgate do tempo, é o cozer da vida.