A Apple decidiu encerrar a fabricação do ipod, já em desuso. Mal sabem eles que eu continuo a caminhar todas as manhãs com uma versão de 2005 ou 2006. Na época, eu trabalhava em uma agência de marketing de guerrilha e cruzava a Berrini com um radinho a pilha pequenino, sem visor, dotado de um único botão. Eu não podia nem escolher a estação. Ao pressionar o botão, o aparelho saltava de emissora. Não era possível nem visualizar a frequência. Ainda assim, achava muito legal a exploração e a surpresa.

Lembro-me do meu chefe, todo moderninho, analisando o dispositivo das cavernas. Chegou a me perguntar se eu preferia também usar uma máquina de escrever em vez do PC. Eu ri alto da piada e escondi no fundo da minha alma um “olhaaaa”. Não achei a ideia tão ruim. Sempre achei um charme máquinas de escrever, talvez pela memória de um avô que a usava madrugada adentro.

Abandonei o radinho de pilha, no afã de pertencer, e equipei meu brilhante besouro verde com músicas baixadas do eMule (era assim que se fazia na época, tá, gente?). Ainda hoje, ele me diverte com a sua seleção esdrúxula – de Oasis a Roxette, de Chitão & Xororó a Ella Fitzgerald, de Laura Pausini a trilha de diversos filmes. É quase aquele radinho de pilha, um salto no escuro, talvez no passado, mas com um gostinho de pertencimento, não mais ao que os outros dizem ou às marcas da moda.

Afinal, como diz a Leona, “eu tenho que encontrar o meu lugar, eu quero ouvir o meu som, não me importo com toda a dor na minha frente, porque eu estou apenas tentando ser feliz.”