Julia Child (autoria da foto desconhecida)

Imagine você que Julia Child morreu em 2004 e nós, ainda, estamos encantados por ela – não só pelas receitas, mas principalmente pela personalidade.

Em “Julie & Julia”, de 2009, ela já tinha fincado uma bandeira no meu coração. Eu cheguei a comprar a autobiografia dela, “Minha vida na França”, tamanho o impacto causado por Nora Ephron e Meryl Streep na versão cinematográfica da obra de Julie Powell.

A HBO Max resgatou-a mais de uma década depois, deixando mais claro para mim a fonte do sucesso da culinarista: a paixão pela vida expressa nos pequenos detalhes.

Julia era esse tipo de gente que se apaixona pelo mundo – pelas pessoas, pelos sabores, pela criatividade, pelos desafios – e transborda esse encantamento em olhares, gargalhadas e ações.

Ela se reinventou diversas vezes – aos 50 anos, por exemplo, assumiu o comando de um programa de culinária, uma faceta até então inédita. Ficou tão deslumbrada com a possibilidade que só enxergou formas de remover ou contornar os obstáculos – do marido aos custos financeiros.

Ela não era de se abater com as adversidades – até um câncer de mama enfrentou, aos 55. Em um dos momentos em que fraquejou, o seu marido estava lá, para impedir que críticas lhe roubassem quem era e o que amava fazer. “Se todo crítico pudesse silenciar qualquer artista, quão monótono seria o mundo então?”, disse. “Não pensemos tanto em nós mesmos a ponto de esquecermos que esse programa é alegria.”

O argumento de Paul Child nunca fez tanto sentido. Apesar de tudo, apesar de todos, tenhamos coragem, para seguir nossos corações, e alegria, para viver bem toda situação de cada dia.

O legado de Julia está vivo e não deixa dúvidas de que uma vida bem temperada é uma vida que vale a pena ser vivida.

(autoria da foto desconhecida)