Independência ou Morte, 1888, óleo sobre tela, 415 cm x 760 cm, Pedro Américo, Museu Paulista da USP, São Paulo.

Assim como o cinema toma lá suas liberdades, o mesmo ocorre com as artes plásticas. O famoso quadro de Pedro Américo, que ilustra nosso imaginário com o ocorrido há exatos 200 anos, às margens do Ipiranga, não é uma representação fiel do que realmente aconteceu . “Na época, a construção de uma identidade nacional raramente era feita mostrando-se à realidade nua e crua dos eventos históricos”, explica Pedro Rezzutti em “D. Pedro – A história não Contada”.

Nosso herói, por exemplo, não vestia uma farda tão pomposa, mas uma sem luxo, provavelmente suja de barro, não só pelos galopes da sua égua, mas também por ter se embrenhado nos matos. É, amigos, parece piada, mas está lá, registrado nas memórias do comandante da guarda de D. Pedro I, que o então príncipe regente, no alto da serra, “queixou-se de ligeiras cólicas intestinais, precisando por isso apear-se para empregar os meios naturais de aliviar os sofrimentos.”

Recomposto da aflição que nos recorda que a realeza é humana, D. Pedro sacou a espada e jurou pelo seu sangue e pela sua honra a nossa independência de Portugal.

É curioso pensar que, já naquela época, ora pois, a integração nacional era um desafio, tanto pelo tamanho continental deste nosso país, quanto pelo fato de que o Português não era amplamente conhecido e falado, predominando de Norte a Sul diferentes idiomas indígenas.

Além disso, mesmo com a independência decretada, haveria ainda muita luta, porque as tropas portuguesas tentariam, por mais de um ano, recuperar a colônia.

Logo, formamos um país muito jovem e, quem sabe, talvez por esta razão, tão imaturo.  Sigo sempre com a esperança de que resgatar a nossa história pode ajudar no processo de amadurecimento. Quem sabe o quadro de Pedro Américo desperte nossos brios. Quem sabe as palavras de D. Leopoldina ao marido reverbere e nos inspire a, finalmente, construir a vida e o país que merecemos: “O pomo está maduro. Colhei-o já, senão apodrece.”