Foto: @tatirlima

Neste 21 de setembro, Dia da Árvore, celebro como a nossa relação com o mundo se transforma com o passar dos anos. Na infância, as árvores são um playground. Tá, tá bom, eu confesso que não tinha lá muita competência para escalá-las, mas adorava colher seus frutos, folhas e flores para fazer comidinhas que nem as minhas bonecas engoliam. Quem sabe essa brincadeira inocente já era um presságio de que, adulta, eu me tornaria vegetariana e me divertiria descobrindo novas formas de consumir os mais diferentes legumes e verduras. 

Passados os 40, fico fascinada com a força e a beleza das árvores. As araucárias, como essa da foto, são as minhas preferidas. São as espécies mais amigáveis: sempre com os braços escandalosamente abertos, cheias de penduricalhos nos punhos, mãos e dedos. Às vezes, não consigo conter a vontade: aceno de volta para elas, selando nossa comunicação silenciosa.

O escritor português José Luís Peixoto diz, em “Onde”, que “as árvores são uma das grandes metáforas. Oferecem-nos uma estrutura para entender a constituição do mundo: raízes, tronco e ramos. (…) Todos os gestos podem ser comparados com árvores: causas são raízes, atos são troncos, consequências são ramos. Todos os caminhos podem ser comparados com árvores: partiram das raízes, estão no tronco, dirigem-se aos ramos. As histórias são árvores. A vida é uma árvore.”

Em outro texto, do mesmo livro, o escritor nos recorda da nossa miudeza frente aos séculos de vida de uma árvore – e, talvez, esse seja o feitiço que elas mais lançam sobre mim, lembrando-me do meu lugar e da impermanência de toda e qualquer existência. “Uma árvore de séculos olha para os nossos rostos da maneira como seguramos uma folha entre os dedos. Sente o nosso olhar, sabe que estamos aqui, mas também sabe que a terra à sua volta engoliu milhões de folhas como nós.”