Rainha Santa Isabel, contemplando Coimbra, no Mosteiro Santa Clara-a-nova (Foto: @tatirlima)

Isabel tinha 12 anos quando o seu casamento com um homem mais velho foi acertado. Deixou tudo para trás e entregou o seu coração ao desconhecido. Só não abriu mão da sua devoção, cultivada pelo avô, católico fervoroso.  

O tal marido era Dom Dinis, rei de Portugal e do Algarve, que soube fazer bons préstimos dos talentos da esposa. Com o poder da empatia e das palavras, Isabel mediou conflitos e evitou guerras – até com o próprio filho, revoltado com a inclinação do pai a reconhecer como seu sucessor o filho bastardo.  

O que difere esta rainha das demais é que, por mais ferida, traída e injustiçada, ela  nunca se colocou como vítima, não jurou vingança, nem promoveu a discórdia. Resignou-se, mas não se conformou nem se apequenou.  

Sabe por quê?  

Isabel tinha um propósito.  

Contrariando o marido, ela deixava a corte para cuidar dos vulneráveis e dos invisíveis. Em uma dessas escapulidas, foi surpreendida pelo rei, que questionou o que ela carregava sob as vestes.  

– São rosas, meu senhor.  

– Rosas? – insistiu Dom Dinis. – Em janeiro? Deixe-me ver então.  

Isabel hesitou, mas abriu sua capa. Para a surpresa de todos, derramou sobre o chão, não os pães surrupiados para os pobres, mas rosas. Este foi o seu primeiro milagre. 

Viúva, ela peregrinou até Santiago de Compostela, onde deixou sobre o altar a sua coroa. Isolou-se da vida pública em um convento construído a seu pedido e só o deixou, meses depois, para evitar que D. Afonso, seu filho e rei de Portugal, entrasse em guerra. Subiu no lombo de um cavalo e enfrentou um frio intenso para chegar em Estremoz. Abatida pela viagem, ela mediou uma solução e descansou.  

Seu corpo foi enterrado em Coimbra, após um cortejo em que o povo demonstrou sua devoção àquela que o enxergou. A canonização aconteceu quase 300 anos depois, em 1625, após relatos de milagres se multiplicarem por todos os cantos. 

Ofuscada pela popularidade de Nossa Senhora de Fátima, a Rainha Santa Isabel continua a ser celebrada nos lindos azulejos que adornam as fachadas das casas em Coimbra.

Azulejos em Coimbra
Espalhados por toda a cidade, celebrando a vida da Rainha Santa

Sua vida não foi poesia. Contudo, a sua capacidade de transformar problemas em rosas a tornou fonte eterna de inspiração.