Foto: @tatirlima (IG)

Às vezes, as palavras ficam entupidas. Não é um simples bloqueio criativo; é uma obstrução provocada pela recusa dos neurônios a fazer certas sinapses. Talvez haja algo que ainda não pode ver a luz do dia; talvez esse algo esteja ainda sendo gestado.

É preciso ter a paciência de uma mãe e esperar horas, dias, semanas e meses até a bolsa romper. Nesse parto também há dor e alegria, há lágrimas e realização. Esse parto também exige adaptação. Nunca mais se é o mesmo. Uma vez que as palavras ganham o mundo, tudo se transforma. A ordem, já tão frágil, se altera.

Até lá, vale tudo. Vale deixar a tinta da caneta roçar sem rumo o papel, manchando os dedos enquanto provoca os nervos. Vale digitar aleatoriamente, tirando notas musicais do teclado. Vale fingir normalidade e cumprir tarefas banais, como estender roupa sob um céu azul e um sol quente. Deixar o vento refrescar cada fibra e chacoalhar os sentimentos reprimidos. Vale deixar o sol curar o tecido e engomar as feridas. Vale deixar o tempo cumprir o seu papel e ditar o destino. Como diz uma amiga:

u m 
m i n u t o 
d e  
c a d a 
v e z.