Ninguém mais pode explicar esse autorretrato como a própria autora: “Para mim, um retrato é coisa tranquila, séria, definitiva, como um monumento que a gente contempla sem se cansar.”
E não é?
Tarsila do Amaral morreu em 17 de janeiro há exatos 50 anos. Tornou-se um dos pilares da Semana de 22, mesmo não tendo participado dela. Trouxe para as artes plásticas do Brasil elementos novos, apaixonou-se pelo regionalismo, exercitou vários estilos e se tornou, 47 anos após o seu falecimento, a artista com a tela de maior valor já pago em leilão público no Brasil. E não estou falando do “Abaporu”, mas do quadro “Caipirinha”.
Morreu no hospital, de complicações pós-operatórias, aos 83 anos. Teve uma vida inspiradora – virou fonte de poemas para Mario; de romance, para Menotti; de amores, para Oswald, que lhe roubou o chão ao trocá-la por uma mulher mais jovem.
Foi descrita pelo colunista social José Tavares de Miranda da seguinte maneira: “Tarsila mede 1 metro e 64 centímetros, descalça. Pesa 60 quilos (vestida). Sabe comer muito bem e aprecia a cozinha francesa. Seu prato predileto é “civet de lapin”. Adora os bons vinhos. Em materia de doces é bem brasileira. Gosta demasiadamente da cocada à antiga, isto é, com bastante gema de ovo. Bebe religiosamente seu cafezinho à paulista. Nunca passou sem possuir uma boa adega em sua casa, mas adora a sua batidinha “Pau Brasil”, bebida de sua criação e servida em suas festas. Receita: pinga e gim em partes iguais; limão, açúcar, clara de ovo bem batida e gelo. Adora jaboticaba. O primeiro livro que leu na vida foi o “Tronco do Ipê”, de José de Alencar. Livros de cabeceira: o “Dom Quixote” e a “Odisseia”. Não fuma, é espiritualista, tem horror aos gordos em geral e às borboletas gordas em particular. Adora jardinagem. Prefere pintar de noite”.
Contudo, a melhor sentença, esta sim definitiva, é a do imortal Manuel Bandeira: “Nunca vi boniteza tão brasileira como a da pessoa e dos quadros de Tarsila”.
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