Ela saiu da reunião e logo trocou o salto pelo tênis. O céu riscado chorava lágrimas finas, tão diferentes daquelas que Juliana segurava dentro de si. Ela respirou fundo e sentiu a bile da rejeição subir à boca. Era só mais um dia de autoestima dilacerada, pensou.

Procurou na bolsa a sombrinha, deixada no conforto do sofá de casa. Enfrentou a rua com a cabeça erguida – não por orgulho, para sobrevivência. A cada passo sua roupa ficava mais encharcada; sua alma, mais pesada. Resistir era exaustivo.

Foi um mendigo, sentado sob uma marquise, quem a despertou. “Isso é que é mulher”, disse. Juliana manteve o ritmo, mas não resistiu: olhou para o céu e gargalhou. O invisível enxergou o que permanecia invisível para ela; o excluído destacou o que ela excluía em si.

Suas lágrimas engrossaram o toró. Só que, dessa vez, a chuva não era mais de dor. A força da sua própria vida jorrava a cada passo. Naquele dia, ela chegou em casa renovada, mas com uma gripe daquelas.