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Doce Viagem

O melhor da vida na nuvem

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natureza

Carta Aberta

Foto: Arquivo Pessoal

Eis-me aqui, embora muitos passam por mim sem me reconhecer. Tornei-me uma anônima – ou, simplesmente, mais uma entre tantas outras sem status algum.

Tento me convencer de que os meus quarenta e pouco anos, dispostos ainda em uma cintura fina, não chamam tanto a atenção. Ou, talvez, não tenha os atributos para fazer história embora de história seja feita.

Meus ancestrais habitaram essa terra bem antes de ela ser “descoberta”. Ocupavam toda a região litorânea, do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte, formando arranha-céus naturais de até 30 metros de altura.

Quem aqui mais tarde chegou rendeu-se aos nossos encantos de uma forma esquisita. Em vez de louvadas, fomos perseguidas, exploradas e aniquiladas por mais de 300 anos. Transformaram-nos em objetos inanimados; com o nosso sangue tingiram a nobreza. A fama não garantiu a nossa sobrevivência, mas o extermínio.

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Vidas em minutos

Da janela, um presente mal captado pela lente do celular. O ipê roxo segue o seu ciclo de vida e morte. Já não está tão cheio, mas ainda tira o fôlego. Resplandece nos dias de sol, de chuva, de nuvens carregadas. Cumpre sem papel, sem desculpa, com propósito, de propósito.

Do alto é possível ver a quantidade de passarinhos que o visita. Diferentes espécies. Entre elas, um grupo de periquitos. Namoram a flor antes de fazer chover pétalas, que cobrem o telhado da casa, o quintal, a calçada formando um tapete delicado. Brincam de galho em galho. Quando o momento chega, um momento tão deles, saem juntos para um novo destino. Parecem guinchar de alegria, como crianças em um parquinho, partindo para um novo brinquedo.

Há muitos detalhes nesse quadro emoldurado pela minha janela. Uma fuga da realidade apressada e barulhenta. Uma fuga da ilusão. Um encontro com a verdadeira vida. Muitas vidas em poucos minutos de observação.

O rio

Foto: @tatirlima

A jovem sentada à beira do rio tinha os olhos no balanço das águas ou, pensei, nas batidas da música que escapava pelos discretos fones. Seu cabelo liso escondia o rosto lavado por lágrimas, derramadas por um passado que teimava em se fazer presente. Seu olhar não conseguia disfarçar a tristeza que lhe acometia e que por tantos passava despercebida.

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O girassol que tinha medo de atravessar a rua

Arquivo Pessoal

“Covarde!”

“Estranho!”

Os humanos estavam cheios de adjetivos maldosos para o girassol que permanecia estacionado à beira de uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Nada parecia afetá-lo: nem os xingamentos, nem as buzinadas, nem as gargalhadas.

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Desconfinamento

Era uma tarde de sol com poucas nuvens pintadas no céu azul. Sentia-me abraçada por uma manta leve, que formava em meu corpo uma capa protetora contra o vento hostil, típico dessa época do ano. Repousava sobre o meu colo um livro, cuja história parecia se entrelaçar ao gracioso movimento da natureza ao meu redor. “Em momentos como estes”, disse o protagonista, “vemos a que deplorável espécie de brutos pertencemos.”

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A promessa de uma valsa

Como a bailarina em uma valsa,

a pétala flanou pelo ar

até pousar no chão.

Sua delicadeza não passou despercebida

principalmente pelo coração,

calado de dor por se recusar a entender

que o fim é um desfecho,

mas também um começo. Continuar lendo “A promessa de uma valsa”

O Sal da Terra

Aline, em um raro clique na sua “miniatura de fábrica” (Arquivo Pessoal)

Como quase todo mundo, Aline sente dificuldade de se definir. Quando reflete sobre a sua jornada, ela só enxerga um processo lento, mas contínuo e muito sutil. Tudo lhe parece tão familiar, tão íntimo e intrínseco, que nem repara na beleza da sua narrativa. “Venho de uma família de imigrantes, de pessoas muito simples, mas com uma atitude muito positiva e otimista perante a vida, dispostas a estarem juntas, trabalharem e serem pessoas melhores. Minhas avós (tanto materna quanto paterna) eram apaixonadas por plantas e sempre tinham alguma pomada para picada de insetos (se bem que o perito mesmo era o meu avô Humberto) ou chás para isso e para aquilo. A minha mãe estava sempre experimentando flores do sítio para preparar perfume. Seu aroma favorito era da flor de coqueiro. Hoje vejo que várias pequenas coisas foram acontecendo ao longo da minha vida e que todas, mesmo as mais simples, me levaram para o caminho que trilho hoje.” Continuar lendo “O Sal da Terra”

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