Na década de 60, Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, deu à luz a uma garotinha sagaz, que encanta crianças e adultos de vários países com suas reflexões engraçadas e inteligentes. Tiradas como essa, postada acima, em que afirma que o Ano Novo que todo mundo deseja depende de nos tornarmos pessoas melhores. E não é? Esse é um desafio que não está vinculado a incentivos do governo ou à boa vontade dos políticos, muito menos à retomada da economia. Depende de cada brasileiro. De mim e de você também.
Significa vigiar cada palavra que sai da boca e cada piada, sarcasmo ou ironia, que mesmo sem intenção, cutuca a ferida (velha ou oculta) do outro. É tirar mais paciência sabe-se lá de onde para responder perguntas idiotas, para repetir a mesma sentença ou buscar aquele copo de água na cozinha. É lembrar que, se você não sabe lidar com o seu mau humor, imagine o outro, que também tem seus dias nublados.
É ter em mente que, por mais que algumas pessoas lhe causem problemas, você é responsável pelos seus atos. Só você. Ninguém mais. O erro de um não justifica o do outro. Pelo contrário. A intolerância que reina no mundo é a prova de que olho por olho deixa o mundo cego e a humanidade, doente. A proposta, então, é ser mais flexível com os erros nossos e dos outros. Não adianta se culpar ou culpar o outro insistentemente pelo leite derramado. O que passou passou. Aprenda, perdoe se possível e siga em frente.
O respeito ao outro também significa que a sua liberdade termina onde começa a do outro e isso se aplica a diversas situações do dia-a-dia. Sabe aquela música alta na praia ou no metrô? Já parou para pensar que o outro não é obrigado a ouvir a mesma coisa que você? E nem é porque ele gosta de música clássica quando deveria gostar de sertanejo, se é isso que você pensa. Ele pode estar com dor de cabeça ou simplesmente precisando de alguns minutos de silêncio.
E o que dizer de quem conversa no cinema como se estivesse na sala de casa? Ou aquele que checa o celular de 10 em 10 minutos? Será mesmo que aquela furada de fila no supermercado ou a carteirinha de estudante falsificada não prejudica alguém? E a bebedeira, seguida de agressividade e gritaria? Ou a comilança e toda e qualquer falta de cuidado com a saúde?
Pare para pensar: não tem essa de “ninguém tem nada a ver com a minha vida”. Tem sim! Ou você vive completamente isolado em uma ilha?
Nós somos parte de uma comunidade e estamos conectados a outras pessoas. Nós fazemos escolhas e as listadas acima podem poupar família, amigos, conhecidos e até desconhecidos de inconveniências, preocupações e até da dor.
Dizem que o Ano Novo, ou o novo ciclo, começa quando a gente desapega do passado, de tudo aquilo que não deu certo, que não nos faz mais bem ou não nos pertence mais. Soa realmente como uma oportunidade de encontrar o novo, de começar de novo. Como esperar resultado diferente se agimos da mesma forma? Por que, então, não desapegar de algumas atitudes e comportamentos? Por que não colaborar com o outro, assim sem pedir nada em troca, por pura diversão ou, olha só, princípio?
Isso talvez não garanta 525.600 minutos de felicidade extrema, afinal os dissabores da vida são fundamentais para o nosso amadurecimento. É certo, porém, que as 52 semanas de gentileza gratuita podem trazer surpresas valiosas para o dia-a-dia. Doses sensatas de sabedoria, quando aplicadas ao longo de 365 dias, podem causar benefícios à saúde e até a tal paz de espírito. A bagagem acumulada ao longo de 12 meses pode ficar, enfim, bem mais leve. Essa é a minha aposta.
Feliz 2016 e um ano repleto de doces viagens!
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